16/09/2022 - 16:42
O anúncio do corte de 59% no orçamento do programa Farmácia Popular, responsável por oferecer medicamentos de graça ou baixo custo para uma parcela significativa da população, caiu como uma bomba no comitê de campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Nesta queda de braço figuram o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, de um lado e o ministro da Economia, Paulo Guedes, de outro. A decisão da redução dos recursos teria partido da equipe econômica e não teria sido amplamente discutida com a equipe de campanha. O
presidente Jair Bolsonaro, que nessa reta final tem apoiado suas chances de angariar votos dos indecisos com a melhora da economia, entendeu a medida como um tiro no pé, e logo começou a distribuir broncas depois da repercussão negativa da medida. A temperatura subiu
bastante nos dois últimos dias, mas parece que frito mesmo saiu o chefe da Economia.
Na noite de quarta-feira, em um ato com apoiadores, Bolsonaro chegou a garantir que os recursos não serão cortados, ainda que a medida faça parte do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) enviada pelo próprio governo ao Congresso Nacional. Nesse caso, a menos que os
parlamentares alterem os recursos (que é muito provável que aconteça) seria difícil para o governo conseguir alterar na canetada. Seria preciso, por exemplo, usar recursos de emendas para sustentar tal medida.
+ Entenda por que a guerra com o programa Farmácia Popular está só no começo
Na mesma noite em que o presidente esbravejou sobre o corte, o ministro da Economia tratou de afirmar que havia sido procurado por Bolsonaro e que a redução seria desfeita. “O presidente me ligou e nós vamos achar outra solução”, disse. O problema é que o estrago
interno já estava feito. A percepção dos agentes de campanha é que informações sobre corte em serviços sociais se espalham muito rápido e o contorno da situação se multiplica de modo mais moroso. “Faltando 20 dias para a eleição este tipo de narrativa é muito difícil de ser
combatida”, afirmou um assessor político do presidente. De toda forma, Bolsonaro deve usar suas próximas aparições públicas para tentar reverter a situação e usará sua tropa digital para espalhar a notícia de que o corte não será aplicado.
Não ficou claro, no entanto, de onde sairá o dinheiro para o custeio do programa. Em 2022, as despesas com a gratuidade do programa Farmácia Populares previstas no Orçamento aprovado pelo Congresso foram de R$ 2,04 bilhões. No projeto de Orçamento de 2023, o
governo Bolsonaro previu R$ 842 milhões, um corte de R$ 1,2 bilhão. O assessor de Bolsonaro disse que as posturas recentes de Paulo Guedes tem incomodado o time que comanda a reeleição. “O papel de Guedes é acalmar o mercado e fortalecer o discurso da retomada
econômica que está em curso. Mas nunca sabemos qual vai ser a próxima pegadinha”, disse. As pegadinhas, no caso da campanha de Bolsonaro sempre podem sair de qualquer lugar.