Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – A safra de soja 2021/22 de Mato Grosso deve atingir um recorde de 38,14 milhões de toneladas, estimou nesta terça-feira o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), ao elevar sua projeção ante os 37,41 milhões apontados anteriormente.

O superintendente do Imea, Cleiton Gauer, alertou, no entanto, que os agricultores estão preocupados com o aumento “brutal” nos preços dos insumos, principalmente os fertilizantes, que elevam os custos de produção e tendem a comprimir as margens do setor na próxima temporada.

“O produtor precisa se preparar para o arrefecimento das margens”, disse ele, durante evento transmitido pela internet.

Caso a nova projeção para a soja se confirme, o volume do maior produtor brasileiro de grãos e oleaginosas representará alta de 5,5% no comparativo anual, mostraram os dados.

O incremento é puxado por um avanço de 3,6% na área plantada, de 10,85 milhões de hectares, e de 1,9% em produtividade.

Gauer afirmou que, por enquanto, as perspectivas são positivas para a safra de soja 2021/22, mas há um sinal de alerta devido à previsão de chuvas excessivas em janeiro, período em que se inicia a colheita da oleaginosa.

“Isso traz um risco de concentração de colheita e necessidade de parque de máquinas ainda mais veloz”, disse.

Para o milho 2021/22, o instituto manteve sua expectativa em 39,65 milhões de toneladas, com alta anual de 17,9%.

A chegada das chuvas e a confirmação do fluxo das precipitações entre janeiro e fevereiro serão determinantes para a janela de plantio de milho segunda safra no Estado.

Sobre o cereal, o superintendente disse que os produtores estão cautelosos na comercialização, assim como na soja, diante de expectativas de avanço nas cotações.

“O produtor está aguardando melhores posicionamentos de preço para não perder ou ficar fora da escalada de preços que pode acontecer mês a mês.”

Na véspera, o Imea informou em relatório que 46,36% da produção esperada para a soja 2021/22 está comercializada, volume abaixo da média histórica para o período, de 49%.

MAIS CUSTOS, MENOS MARGENS

Atento ao planejamento para o ciclo de 2022/23, Gauer observou que as vendas antecipadas para a próxima temporada caminham a passos lentos, por dificuldade para conciliar com os custos de produção.

“Tivemos aumento de preços, mas o custo de produção também aumentou”, disse ele.

“De um ano para o outro, tivemos um aumento de 100% para quase todos os fertilizantes aqui na região”, acrescentou.

Com isso, a despesa se tornou um ofensor para as margens das principais culturas de Mato Grosso, que vinham em ascensão ano após ano, e agora tendem retornar para a média histórica.

O especialista acredita que este cenário pode levar a uma redução na utilização de insumos no próximo ciclo, mas em áreas já bem desenvolvidas, o que não traria grandes preocupações em termos de queda de produtividade.

“A preocupação maior seria (prever) o clima para a próxima safra, não a redução de produtividade. O produtor ainda tem muito tempo para se preparar”, afirmou, sobre a safra que será plantada somente em setembro do ano que vem.

PECUÁRIA

Dono do maior rebanho bovino do Brasil, Mato Grosso registrou queda de 13,8% no volume de abates em 2021, para 4,265 milhões de cabeças, mostraram dados do Imea também nesta terça-feira.

O resultado vem na esteira da estratégia de retenção de fêmeas, medida que tende a se modificar um pouco no ano que vem, contribuindo para elevar a oferta de carne, estimou Gauer.

Ele lembrou que a suspensão de compras da China de carne bovina brasileira, após detecção de dois casos atípicos da doença vaca louca no Brasil –um deles em Mato Grosso– afetou os preços e as práticas de confinamento no fim do ano, mas a perspectiva é que em 2022 as exportações se normalizem “mais cedo ou mais tarde”.

“Então, prevemos um 2022 com menor volatilidade nos preços… do lado da produção, não uma virada de ciclo, mas um aumento de oferta”, completou.

(Por Nayara Figueiredo)

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