31/08/2010 - 1:00
Os heróis são latino-americanos ilegais e a maioria dos vilões é de brancos americanos: trata-se de “Machete”, o último filme de Robert Rodríguez, provocador por sua alta dose de sangue e humor, tendo a imigração como tema de fundo.
O anti-herói de Rodríguez, o mercenário mexicano “Machete”, que tem um dom extraordinário no manejo de facas, é interpretado por Danny Trejo, um ator historicamente secundário em seu primeiro papel como protagonista, atacando nas telas grandes figuras de Hollywood, como Robert De Niro, Steven Seagal, Don Johnson e até Lindsay Lohan.
O elenco dá vida a uma sátira sobre a realidade da fronteira entre Estados Unidos e México, marcada pelo narcotráfico, guardas locais violentos e políticos corruptos.
“Recentemente, a imigração tornou-se um grande problema nos Estados Unidos, então eu queria fazer algo que mirasse a corrupção que existe no sistema, para além do que se vê no noticiário”, disse Rodríguez em Beverly Hills.
Para este diretor americano de raízes mexicanas, “as pessoas sempre querem um debate sobre a imigração, mas nunca querem falar da corrupção que existe entre os governos de Estados Unidos e México quando se trata desse assunto”, explicou o cineasta em coletiva de imprensa.
“É por isso que os cineastas criam esse tipo de super-heróis, como Rambo ou Machete. Temos que criar esse tipo de personagens para resolver os problemas que não podem ser resolvidos na vida real”, disse o diretor de “El Mariachi” (1992), de 42 anos.
Os protagonistas do filme de Rodríguez, Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, personificam os heróis de uma trama rodada em inglês, com atores de raízes latinas que, em alguns casos, falam somente espanhol.
“Isso é parte dos Estados Unidos de hoje, todos somos daqui”, disse a atriz Michelle Rodriguez (“Avatar”), de origem dominicana e porto-riquenha, nascida no Texas.
Cenas cheias de sangue, diálogos sarcásticos em todas as direções e perseguições de automóveis típicas dos anos 1970 servem a uma história fiel ao cinema de Rodríguez.
No entanto, qualquer reflexão sociológica, ou dedução sobre supostas ofensas a mexicanos ou americanos na obra, emerge como análise exagerada desse filme de entretenimento puro e simples.
“O momento para um herói como ‘Machete’ é perfeito, e como a imigração afeta atualmente nossa sociedade, é o tema perfeito para abordar em um filme valente como este”, completou o cineasta.
O filme “Machete” nasceu de um trailer falso para o filme rodado por Rodríguez junto com Quentin Tarantino em 2007, “Grindhouse”, título que faz alusão ao termo em inglês usado nos anos 1970 para as matinês de filmes de baixo orçamento, que eram vendidos como dois em um. Na América do Norte, foi visto nesse formato.
O público estrangeiro viu os filmes separadamente, sob os nomes de “À Prova de Morte”, de Tarantino, e “Planeta Terror”, de Rodríguez.
“Robert me formou para esse filme desde que fizemos ‘A Balada do Pistoleiro’ (1995). Desde então, conversamos sobre o personagem de ‘Machete’, e tudo o que fizemos juntos até agora nos levou até esse filme”, disse Trejo, um rosto que não pode faltar na obra de Rodríguez, que com 66 anos conseguiu ser protagonista.
“Ser protagonista significa que tenho que beijar Jessica Alba e muitas outras mulheres, e isso é muito bom”, brincou por um momento Trejo, que reconheceu que foi dura a pressão de ter todo o peso do filme sobre seus ombros.
Sobre a eventual polêmica que o filme poderá despertar, sobretudo nas alas conservadoras, Trejo concluiu: “as pessoas vão se ofender tanto quanto vão gostar”.
“O filme está fora de sintonia com a oferta habitual de Hollywood, onde os hispânicos são constantemente retratados como vilãos. Mas fiz essa obra de forma a incluir todos os públicos”, concluiu Rodríguez.
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