Estoques internos elevados, portos lotados e preços internacionais em queda devem continuar compondo um cenário de queda de preços no mercado brasileiro de aço plano nos próximos meses, em um ano no qual a importação da liga deve bater recorde, previu o setor distribuidor de laminados planos nesta quarta-feira.

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“Estou vendo possibilidade de o [preço no] mercado interno cair ainda mais ante o que caiu desde janeiro”, disse o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, em entrevista a jornalistas.

“Os estoques estão altíssimos”, acrescentou, citando que os preços de aço plano desde janeiro acumulam queda de 15% a 16%, em média, no mercado brasileiro.

Importação de aço em alta

Segundo os dados do Inda, a importação de aço plano no Brasil em maio disparou 71,5% sobre um ano antes, para 417,9 mil toneladas, volume que foi “chocante” para o setor distribuidor, disse Loureiro.

O executivo comentou que, apesar do governo federal ter ampliado a lista de produtos siderúrgicos sujeitos à alíquota de 25% de imposto de importação, a compra do exterior segue vantajosa.

“Alguns colegas estão comprando material (importado) mesmo pagando os 25%”, disse Loureiro. “Esse material está entrando com vantagem muito grande”, afirmou.

No final de maio, o governo federal decidiu renovar por 12 meses o sistema criado no ano passado para tentar defender a indústria siderúrgica nacional de importações, e incluiu no esquema que envolvia 19 produtos mais quatro que vinham sendo usados para contornar a tarifa de 25%.

O setor distribuidor de aço plano terminou maio com estoque de 1,07 milhão de toneladas, crescimento de 1% ante abril e de 17,1% ante maio. O volume é suficiente para 3,3 meses de comercialização ante uma média histórica de 2,9 meses, segundo os dados do Inda.

Desse volume, 685 mil toneladas são laminados a quente, 22% acima do verificado um ano antes.

“Hoje, praticamente todo mundo está com preço de estoque médio bem acima do preço de reposição”, disse Loureiro, citando cenário de prejuízo caso o preço do aço volte a cair nos próximos meses.

Loureiro comentou que o porto catarinense de São Francisco do Sul, principal entrada de aço plano importado no Brasil, já tem 900 mil toneladas do material armazenadas após receber quase 212 mil toneladas em maio.

Enquanto isso, o porto de Manaus, região beneficiada pela zona franca, recebeu 101 mil toneladas de aço plano importado em maio, uma participação de 20,6% no volume total do país. Fortaleza ficou em terceiro lugar, com fatia de 11,8% nas importações do mês passado, ou 57,7 mil toneladas.

“O número de importação de junho vai de novo nos surpreender e tudo leva a crer que os números seguirão altos em julho e agosto”, disse Loureiro. “Em 2025, deve ter volume recorde de importação”, acrescentou.

Vendas em alta

Mas com o mercado interno ainda aquecido, apesar dos juros elevados, a venda de aço segue crescendo. Em maio, os distribuidores venderam 329 mil toneladas de aço plano no Brasil, segundo o Inda, um crescimento de 3,7% ante abril e de 4,2% sobre um ano antes. No acumulado dos primeiros cinco meses de 2025, a venda mostra expansão de 1,6% sobre o mesmo período do ano passado, a 1,62 milhão de toneladas.

Por dias úteis, a venda de maio foi equivalente a 16,4 mil toneladas, maior nível para o mês desde pelo menos 2016. Até o mês passado, o melhor desempenho para maio havia ocorrido em 2021, com venda diária de 15,3 mil toneladas, segundo os dados do Inda.

A previsão da entidade para junho é de crescimento das vendas para 342,1 mil toneladas, alta de 4% ante maio e fechando o semestre em expansão de 1,5%.