10/11/2020 - 13:11
O secretário executivo do Comitê de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, foi taxativo ao dizer ser impossível que a reação adversa do voluntário – tal qual argumentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para suspender a realização dos testes clínicos da vacina Coronavac – tenha relação com o imunizante.
Segundo Gabbardo, o intervalo entre a aplicação da suposta vacina e início do registro de sintomas é superior a três semanas. Gabbardo ressaltou ainda que não foi descartada a hipótese do paciente ter recebido um placebo. “É impossível que um medicamento possa ter causado uma vertigem num paciente, supostamente atropelado, quase um mês depois de ter tomado o medicamento”, afirmou.
+ BioNTech prevê produção de até 1,3 bilhão de doses de vacina para covid em 2021
+ Bolsonaro critica Doria e, sem provas, acusa vacina de causar ‘morte e invalidez’
Gabbardo, que serviu como secretário executivo do Ministério da Saúde, sob gerência do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, disse ter respeito e consideração pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra, com quem trabalhou enquanto serviu à pasta do governo federal.
“Imaginamos que não tenha sido algum motivo político interessado em prejudicar a ação do governo estadual. Provavelmente essa informação tenha sido utilizada por alguém com interesse em criar um fato. Disso não tenho nenhuma dúvida”, afirmou Gabbardo durante entrevista coletiva, nesta terça-feira (10), no Instituto Butantan.
Gabbardo disse esperar da agência reguladora o restabelecimento mais rápido possível da continuidade da pesquisa. “Uma vez respondidas todas as questões e tendo a certeza de que não existe relação de nexo causal, espero que possamos restabelecer o mais rápido possível a pesquisa. As pessoas estão aguardando na fila para serem voluntárias”, afirmou.
Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão minimizou na manhã desta terça-feira a suspensão dos testes da vacina chinesa Coronavac por ordem da Anvisa. Mourão evitou comentar, contudo, as declarações do presidente Jair Bolsonaro que comemorou a medida e disse, sem apresentar provas, que o imunizante causa “morte” e “invalidez”.
“Todo e qualquer processo de vacina sofre avanços e recuos. Vamos lembrar que aquela outra vacina de Oxford também teve testagem interrompida quando houve um óbito entre as pessoas que eram do grupo submetido a esse teste. É o mesmo procedimento com essa (Coronavac)”, disse hoje.
Mourão defendeu que seja estudado o “evento adverso” de suposto óbito no âmbito dos estudos do imunizante chinês, que motivou a decisão da Anvisa. “Até porque de acordo com os dados disponíveis, a pessoa não estava com covid. Tem que ver o que aconteceu”, acrescentou.
O vice-presidente também foi questionado sobre a postura de Bolsonaro em considerar a decisão da Anvisa como uma vitória sua sobre o governador de São Paulo João Doria (PSDB), que defende a vacina e é rival político do chefe do Executivo. “Vou responder como já respondi algumas vezes para vocês. Eu sou vice-presidente do presidente Bolsonaro, não me compete comentar as declarações dele.”
Na conversa com jornalistas, Mourão evitou falar sobre sua relação com Bolsonaro, mas comentou brevemente sobre recente fala do mandatário relacionada às eleições norte-americanas. Ontem, depois do vice-presidente dizer que Bolsonaro aguardava “a hora certa” para cumprimentar Joe Biden pela vitória nos EUA, o chefe do Executivo disse, em entrevista à CNN Brasil, que não conversou com Mourão sobre Estados Unidos, assim como não tem falado “sobre qualquer outro assunto com ele”.
Sobre a fala, Mourão afirmou nesta terça: “apenas a minha visão é que eu acho que ele (Bolsonaro) está aguardando (para se pronunciar), só isso”. Desde o fim de semana, Bolsonaro mantém silêncio sobre o resultado das eleições americanas, em que seu aliado, Donald Trump, foi vencido pelo democrata Joe Biden. O atual presidente dos EUA levou o pleito à Justiça e ainda não admitiu derrota.