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Uma poupança de R$ 2 milhões garante uma renda mensal de R$ 10 mil com uma retirada de apenas 0,5%

Entramos no 20º mês do estouro da crise econômica que transformou as finanças mundiais em um pandemônio. Desde agosto de 2007, só se fala em recessão de países, quebra de empresas e redução de emprego. As notícias ruins parecem maiores que o cenário real, principalmente no Brasil. Mas a soma de todos esses fatores faz o estresse aparecer diariamente. Nas poucas horas de reflexão que você tem disponível, uma pergunta certamente ronda suas emoções: até quando eu precisarei aguentar tudo isso? Consciente ou inconscientemente, você busca um número. É o número mágico perseguido por todos que pensam em viver de renda.

Para ter um projeto de liberdade financeira é preciso de uma caneta e um papel. Eles serão necessários para se tomar nota de todos os compromissos que se tem no mês e no ano. Inclua a mensalidade da escola dos filhos, a academia, o aluguel ou a parcela do financiamento imobiliário, os impostos, todas as despesas da casa, os almoços especiais e as viagens de férias. Não esqueça de nada porque o resultado dessa soma será a sua média de gastos mensais. Concentrese nela e pense como acumular um valor que seja capaz de gerar um dinheiro mensal para você ficar na sombra e água fresca. E há três maneiras de se atingir esse objetivo. “Diversificando os investimentos, estendendo o prazo de aplicação ou aumentando a economia mensal. Só não pode colocar na caderneta de poupança, que o retorno será muito baixo”, afirma Kleyler Carvalho Rocha, professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

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Se uma renda de R$ 10 mil for suficiente para cobrir seus gastos mensais, será preciso acumular R$ 2 milhões. Você só precisará retirar 0,5% para o seu, digamos, “salário”. E é possível manter esse padrão por um longo período, desde que se consiga um rendimento de 1% ao mês – o que não é trivial num cenário de juros em baixa e exige um pouco de renda variável no longo prazo. “Neste momento, é preciso procurar aplicações conservadoras, que não sejam voláteis e prejudiquem os saques mensais”, diz Viviane Martinez, gestora da LLA Investimentos. A dúvida é em quanto tempo você deseja atingir esse montante e quanto tem disponível para poupar (veja quadro). Com R$ 24 mil mensais, em cinco anos você atinge o objetivo. Meros R$ 308 mensais por 35 anos vão ajudá- lo. Quanto mais tempo se tem, mais se pode aproveitar as oportunidades que surgem com as mudanças na economia. Para períodos longos, não se sinta bloqueado em buscar rendimentos fixos. “No longo prazo, sempre é bom diversificar, aproveitando ativos diferentes, como fundos imobiliários, ações e renda fixa”, alerta Rocha. Como exemplo para quem está pensando algumas décadas à frente, a BM&FBovespa acumula alta de 17% no primeiro trimestre deste ano. “Quem enxergou essa possibilidade ganhou dois anos de aplicação na renda fixa”, afirma o professor da FEA-USP.

Não se esqueça que o número mágico pode mudar. Lee Eisenberg, autor do livro The Number: a completely different way to think about the rest of your life (em tradução livre “O Número: um jeito completamente diferente de pensar sobre o resto de sua vida”), foi checar com seus entrevistados três anos após a publicação quais eram as mudanças provocadas pela crise financeira. Se antes uma pessoa tinha US$ 1 milhão, queria ter US$ 5 milhões. Se tinha US$ 20 milhões, precisava de US$ 40 milhões. Agora, após o vendaval sobre Citigroup, AIG e Bernard Madoff, depositários de boa parte da poupança americana, o planejamento financeiro mudou. A preocupação é a manutenção do emprego ou como procurar uma recolocação. “O pensamento sempre está focado no padrão de vida atual, seja ele bom ou ruim”, diz Rocha. Ou seja, as necessidades mudam com o tempo. “O planejamento nunca pode ser posto a perder. Ele pode ser útil até para um ano sabático”, diz Viviane.