17/05/2021 - 21:30
Uma ampla gama de independentes que representam a esquerda chilena compõe a maioria da Convenção Constitucional, da “tia Pikachu”, que saltou à fama por comparecer aos protestos fantasiada como o famoso personagem de jogos eletrônicos e desenho animado japonês Pokémon a jornalistas, atores, advogados, escritores e ativistas sociais.
Contrariando todos os prognósticos e acertando um duro golpe nos partidos políticos tradicionais, tanto da direita no poder quanto da esquerda opositora, os candidatos independentes se tornaram os grandes vencedores da eleição que escolheu no fim de semana os 155 membros que vão redigir a nova Constituição do Chile.
No total, 48 independentes foram escolhidos, superando os 37 representantes eleitos pela coalizão do governo, os 25 assentos dos partidos tradicionais de centro-esquerda e os 28 da esquerda mais radical.
A estes se somam 17 cadeiras reservadas aos povos indígenas, que têm uma série de reivindicações culturais e de territorialidade e que não se situam na ideologia política tradicional de esquerda ou direita.
A maioria dos independentes é de esquerda, mas ainda é difícil antecipar a forma como vão atuar na Convenção.
“Nem todos os independentes podem ser colocados no mesmo saco e não são um grupo homogêneo, ao contrário. Por sua própria natureza de independentes, são muito poucos os que têm um senso coletivo na política”, explica à AFP o cientista político da Universidade de Talca Mauricio Morales.
Para Marcelo Mella, analista da Universidade de Santiago, quase todos os independentes têm “um discurso crítico aos partidos tradicionais”.
O cientista político Claudio Fuentes afirmou à AFP que, neste grupo de independentes, muitos vêm com “afinidades políticas para a centro-esquerda”, e que em sua grande maioria são afins a partidos políticos, que incluem o Partido Comunista e a esquerda tradicional.
– Amplo leque –
Entre os independentes sem dúvida a maior surpresa foi a da chamada “Lista do Povo”, formada na maioria por desconhecidos que se definem como lutadores de “toda a história por obter dignidade e justiça”. Seus membros têm uma visão mais radical do que os outros grupos sobre as mudanças que devem ser realizadas no Chile.
“Nossa visão é um Chile com igualdade de gênero, plurinacional e digno. Um país empoderado e dono de suas riquezas naturais, que invista no maior patrimônio que tem: seu próprio povo”, define a lista em sua página web.
Entre os 24 convencionais eleitos nesta lista, destaca Giovanna Grandón, uma assistente de pré-escola e motorista de transporte escolar de 45 anos, que saltou para a fama ao comparecer nos protestos fantasiada como o famoso personagem Pikachu.
“O papel do Estado tem que ser garantidor, onde não se privilegie os empresários como se fez até agora, nem o ter dinheiro e que apenas por isso consigam alcançar uma educação de qualidade”, disse em uma entrevista recente com a AFP.
Nesta lista também há professores, um mecânico, vários advogados, uma socióloga, um médico e uma mulher que afirma ter cursado apenas o ensino médio.
“São pessoas claramente mais de esquerda, que ainda não estão alojadas em partidos, portanto se tornam incontroláveis em uma Convenção”, adverte Morales.
Mas também há outros mais moderados e antecipa-se que possam ser muito mais abertos ao diálogo com as forças da centro-esquerda, reunidos na lista “Independentes não neutros”, que tirou 11 representantes, e que se define como um grupo “diverso, transversal e comprometido com a atividade pública”.
O psicólogo Benito Baranda, que por anos trabalhou para a superação da pobreza, e a renomada jornalista Patricia Politzer, são suas figuras mais representativas.
“A construção de uma Constituição requer deste quebra-cabeça mais amplo que permita montar uma Constituição que tenha adesão cidadã”, disse Baranda nesta segunda à rádio Cooperativa.