A aldeia indígena Tatuyo, às margens do Rio Negro, no estado do Amazonas, tornou-se famosa, com milhões de pessoas acompanhando seu modo de vida. Isso acontece devido à insistência com que Maíra Gomez, 22 anos, compartilha sua cultura no Tik Tok.

Em sua conta na rede social, ela é conhecida como Cunhaporanga, que significa “mulher bonita da aldeia”, em tupi. Neste domingo (26), ela soma 6,3 milhões de seguidores, com 18 meses de atividade. Porém, não foi fácil atrair tanta atenção. Cunhaporanga viralizou, inicialmente, ao publicar um vídeo no qual come uma larva de besouro.

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Na postagem em que oferece uma porção de larvas a sua família, Cunhaporanga teve 6,7 milhões de visualizações. Quando mostrou uma ferramenta para fazer farinha de mandioca, teve 16 milhões de visualizações. Dança nas margens do Rio Negro com uma música pop: 4,1 milhões de visualizações.

À medida que a internet expande seu alcance ela permite aos povos originários mostrarem sua cultura, tão depreciada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em 2015, Bolsonaro declarou que “índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura”, lembra o jornal americano Washington Post. Mais recentemente, em discurso na Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro lamentou que 13% do território brasileiro seja destinado às reservas indígenas, sem a possibilidade de exploração comercial.

No entanto, a aldeia Tatuyo precisa arcar com uma cara conta de internet para manter as atividades de Cunhaporanga nas redes sociais. O custo de R$ 325, para custear uma antena que permite conexão via satélite, ameaça a carreira de Maíra nas redes.

Seu pai, o cacique da tribo, disse que a comunidade pode encerrar o acesso à internet. Como o Tik Tok dificulta a monetização de seus usuários, Cunhaporanga conseguiu algumas doações com seus seguidores. Em vez de se preocupar, no entanto, ela prefere pensar em seus próximos posts.

Marubo
Quem também faz sucesso na internet é Beto Marubo, da tribo Marubo. Ele conta com mais mais de 8,5 mil seguidores no Twitter, mas possui uma abordagem mais crítica e política que Cunhaporanga. Beto é membro da Organização Indígena Univaja, que luta pela proteção de 16 etnias indígenas no Vale do Javai, também no Amazonas.

“Esta é uma oportunidade importante”, diz Beto ao jornal americano sobre a chegada da Internet. “O povo brasileiro não o povo indígena e esta falta de informação faz surgir terríveis estereótipos, como indígenas são folgados, indolentes ou infelizes”.