Após ficar 74 dias sob a guarda da Fundação Nacional do Índio (Funai), o último sobrevivente da terra indígena Tanaru foi sepultado nesta sexta-feira, 4, no mesmo local onde foi encontrado morto. De acordo com informações da TV Globo, os ritos fúnebres foram feitos por indígenas da região na última área em que viveu o chamado “índio do buraco”.

O sepultamento atendeu a uma determinação da Justiça Federal em Vilhena (RO), após pedido urgente do Ministério Público Federal (MPF). Na ação de número 1002480-07.2022.4.01.4103, o MPF argumentou que a demora no sepultamento desrespeitava a dignidade e a memória do indígena, de seu povo, das tribos de Rondônia e do Brasil e dos servidores da Funai que o salvaram do extermínio e atuaram por décadas na sua proteção. A Funai alegou não ter obrigação legal de sepultar o indígena, mas esse argumento não foi aceito.

A saga do corpo do indígena começou a 23 de agosto, quando a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai em Guaporé o encontrou morto numa rede, ornado de penas de araras, como se tivesse se preparado para a morte, dentro de uma maloca. Levado para Vilhena, cidade a 50 quilômetros, o corpo foi transportado em seguida num avião da FAB para Brasília.

Na capital federal, passou por exames no Instituto de Criminalística. Um mês depois, retornou a Rondônia, indo para a sede da Polícia Federal.

Há 26 anos, o indígena era monitorado pela Funai, que registrou as habitações de palha ocupadas por ele durante esse tempo. Foram 53. Todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada e saída e um buraco cavado no interior da casa.

Há quatro anos, a fundação divulgou imagens do índio isolado. Na época, informou que em algum momento na década de 1980 a colonização desordenada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia provocaram sucessivos ataques aos povos indígenas isolados, em um constante processo de expulsão de suas terras e de morte.