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Estes senhores saíram do zero, ergueram impérios empresariais e fizeram fortunas

 

 

De zero a cem quilômetros por hora em 4, 6, 8 segundos. A indústria automobilística costuma usar esse parâmetro para mostrar a excelência de suas máquinas. Quanto menor o tempo, mais potente é o carro. Transportando a expressão para o mundo empresarial, poderíamos adaptá-la a algo como ?de zero a milhões ou bilhões de reais de faturamento?. O tempo é o que menos importa neste caso. Vale a fórmula de como a fortuna foi feita. Nas próximas páginas, você verá exemplos de potentes empreendedores que saíram do
zero e construíram impérios. São antigos engraxates, feirantes e cobradores de ônibus que alcançaram sucesso corporativo
partindo de um capital modesto, muito suor e alguma dose de
sorte. São personagens que seguiram a cartilha de empresários
como o ex-camelô Silvio Santos ou o ex-feirante José Cutrale. Alguns, fundadores de companhias com grande poder financeiro como o Grupo Martins e a Coteminas. Outros, mais modestos,
como os donos da rede Drogamed e dos supermercados Estrela D?alva. Nada contra herdeiros, mas a trajetória de quem saiu
do zero tem brilho diferente.

EU FUI BOY

Uns dizem que o sucesso acontece quando se tem sorte, outros preferem a tese de que só se chega à prosperidade depois de muito trabalho. Aparecido Camargo, um paulista de 52 anos, contou com essas e outras ajudas para trocar a bicicleta velha, usada na época em que era office-boy de uma farmácia na cidade de Maringá (PR), pelo comando da maior rede de farmácias do Estado. O primeiro acaso ocorreu dentro de casa. Assim que o pai, um agricultor semi-analfabeto, saiu do interior de São Paulo rumo ao Paraná, cismou que o filho, então com 12 anos, tinha de trabalhar em uma farmácia. Por causa do pouco estudo, Camargo não passou no teste para o emprego e só conseguiu a vaga quatro anos depois. Após a contratação não parou mais de crescer. Em cinco anos, juntou as economias, os empréstimos de um amigo e do banco e em 1975, com um valor que hoje seria cerca de R$ 10 mil, comprou sua primeira farmácia na capital paranaense.

Por sugestão de um cliente, o empresário foi fazer uma cabala para ver o que o futuro previa para os negócios. Trata-se de uma filosofia que faz previsões baseadas em números e letras. Foi aí que escolheu o nome Drogamed. ?Até hoje defino a data e o horário da inauguração das minhas lojas com a ajuda da cabala. Foi fundamental para o meu sucesso?, diz. Mas a situação se complicou. Em 1988, depois do Plano Cruzado, Camargo teve de pedir concordata, da qual saiu um ano depois. Na década seguinte, aconteceu o grande lance. Foi quando conseguiu comprar seu maior concorrente, a rede Minerva. A aquisição trouxe outro problema, a necessidade de profissionalizacão. Em 2000, veio a chance da virada. A rede chilena de farmácias Haumada tornou-se sócia-controladora da Drogamed e Camargo foi mantido na presidência do grupo. Com o dinheiro da venda, investiu em um SPA urbano, em Curitiba. Hoje a Drogamed tem 85 lojas e fatura R$ 168 milhões por ano. ?Valeu a pena, mas agora é o momento de dividir o tempo com a minha família?, afirma.

LUCRO NO GRITO

?Olha a linha, olha o botão…? O bordão ainda emociona o empresário nordestino Amaro Amâncio. Era assim que este senhor de 45 anos atraía a freguesia da famosa feira de Caruaru (PE), local onde nasceu e montou seu primeiro negócio: uma pequena banca que vendia aviamentos (linhas, botões, elásticos). Hoje, sua freguesia é outra: Vicunha, Penalty, Valisére. As grandes marcas têxteis entraram em sua vida quando o ex-feirante montou a Etical Etiquetas, atualmente a terceira maior indústria do segmento no País. Amâncio começou produzindo três milhões de peças/mês e agora suas máquinas fazem 40 milhões de etiquetas mensais. Em 2000, o faturamento cresceu 133% e neste ano deve aumentar 30%, atingindo R$ 12,5 milhões.

Antes de montar a Etical, Amâncio investiu o dinheiro que havia ganho com suas vendas na feira para abrir um armarinho. ?Mas percebi que poderia multiplicar meu patrimônio se investisse na
área industrial, fazendo etiquetas?, diz. Amâncio se desfez do armarinho e foi em busca de financiamento com o Banco do Nordeste. Levantou R$ 75 mil, comprou dois teares e instalou a Etical em Caruaru. Mas ainda faltava o capital de giro. Ele passou nos cobres os bens que possuía e mais uma vez começou do zero. Hoje é dono de 10% do mercado nacional.

 

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Ronan Pinto: ex-cobrador é dono de 344 ônibus

O BOM NA DIREÇÃO

Onde você estava no Réveillon de 1977? Para o empresário Ronan Pinto, dono de um conjunto de empresas com faturamento de R$ 90 milhões, a resposta remete a uma outra existência. Até aquela data, o mineiro de Patos de Minas ?puxava areia? em Brasília, dirigindo caminhão. Foi em 1977 que ele vendeu casa e carro para tornar-se sócio de uma empresa de ônibus urbanos no Rio de Janeiro. ?Eu não era empresário, era operador?,
diz Ronan. Tinha 25 anos e levava na bagagem pouca instrução escolar. O que sabia de transporte coletivo tinha aprendido atrás
da catraca de cobrador, onde trabalhou dos 11 aos 18 anos.
?Aquilo foi minha faculdade?, diz Ronan. Hoje, ele é dono de uma frota de 344 ônibus, divididos em seis empresas que atuam em
Santo André, no ABC paulista, em Recife e Cuiabá. Comanda,
ainda, duas companhias de coleta e incineração de lixo. O grupo
não é bem um grupo, porque as empresas são independentes, mas
é conhecido pela sigla Roterdali ? formada com as iniciais de seu nome e dos nomes da mulher e dos filhos.

Se a história acabasse na linha de cima já seria excepcional. Mas a saga é ainda mais surpreendente porque Ronan não apenas é um empresário de sucesso, mas obteve êxito agindo com lisura num dos setores mais cartelizados da economia brasileira. Em 1992, Ronan foi o primeiro a fechar com a Prefeitura de Santo André um acordo contrário ao interesse do cartel dos ônibus. Hoje, funciona na cidade um sistema de transporte inovador, com leilão de concessões e computadores registrando cada passageiro que cruza as catracas eletrônicas. A transparência é total. ?Os empresários ganham dinheiro e prestam um bom serviço?, diz o secretário de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Souza. Em troca, a Prefeitura garante que não haja nas ruas perueiros corroendo a receita das concessionárias. Funciona.

 

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Alair Martins: da roça para um grupo de R$ 1,5 bilhão

CAMPO DOS SONHOS

Treze anos de idade e uma vontade danada de mudar o destino. Lá se foi o menino Alair Martins do Nascimento tentar a sorte na cidade. Ele sabia que a vida de roça na pequena Martinésia, a 20 km de Uberlândia (MG), não era sua sina. Sonhava em trocar a enxada pelo comércio. Levou dois anos para convencer o pai e finalmente mudou-se para Uberlândia. Primeiro, foi ajudar um tio em um pequeno empório. Aos poucos, passou a gerenciar o negócio. Fez algum dinheiro, trouxe pai e mãe da roça, juntou a pequena economia da família e abriu o seu modesto armazém. ?Eu pedia todos os dias a Nossa Senhora Aparecida que não me deixasse decepcionar meu pai?, lembra. A santa atendeu. Hoje, aos 67 anos, Alair comanda um império de R$ 1,5 bilhão e mais de 20 empresas. É o dono do Grupo Martins, maior companhia de distribuição e logística do País.

Alair é homem de decisões rápidas. No início de sua saga comercial, quando viu que as vendas do pequeno negócio registraram crescimento de 70% em dois anos de atividade, deixou o lucro de lado e reinvestiu tudo em outro armazém. Depois, percebeu que a distribuição e estocagem de mercadorias era o grande problema de pequenos e médios comerciantes locais. Nascia ali um promissor nicho de mercado. Uberlândia ficou pequena e o empresário
correu o Brasil. ?Onde houvesse uma estrada e um rio navegável,
o Martins teria de estar. Este era o lema?, recorda Alair. Hoje o grupo tem a maior frota do País, com 2,6 mil veículos, e atende
180 mil clientes. Vai investir R$ 25 milhões em tecnologia e se prepara para abrir o capital, além de estudar oportunidades no exterior. O roceiro foi longe.

 

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Renato Godinho: o ex-engraxate brilha no varejo

VAI GRAXA Aí, DOUTOR?

A correria é tão grande que Renato Godinho, presidente da rede mineira de supermercados Estrela D?Alva, só tem tempo para engraxar os sapatos quando está no aeroporto. Afinal, além de administrar 11 lojas espalhadas por Belo Horizonte, está acertando os detalhes de um programa de expansão que prevê a abertura de 10 unidades em 2002. Depois de faturar R$ 40 milhões em 2000, a previsão é dobrar a receita em 2001. Mas há 26 anos a cena era diferente. Godinho, aos 13 anos, recém-chegado do interior, ficava à noite na porta de um bar em Belo Horizonte em busca de clientes que quisessem dar um lustro nos calçados. Durante o dia, vendia limão e picolés.

Depois do primeiro trabalho, muita coisa aconteceu. Com os
três irmãos, Godinho montou um pequeno mercado dentro de um conjunto habitacional. Apesar de os negócios irem bem, três anos atrás a luz vermelha acendeu. Ao perceber o movimento das
grandes redes varejistas, que compraram vários supermercados pequenos, Renato e os sócios ficaram alertas. ?Se continuássemos sem rumo, seríamos engolidos?, conta. Em 1999 começou a profissionalização. Este será o primeiro ano em que a empresa passará por auditoria. No futuro a intenção é tornar a Estrela D?Alva uma sociedade anônima e atrair sócios. O presidente do grupo nem pensa em vender a rede. ?Se negociarmos a empresa, matamos o nosso projeto de crescimento?, diz.

TRABALHO E SORTE

Ninguém poderia imaginar que aquele rapazote que saiu de
casa aos 14 anos para trabalhar atrás do balcão de uma loja
de tecidos seria um dos maiores empresários da indústria têxtil.
José Alencar, empresário, atualmente prefere a vida pública
como senador. Mas sempre aconselha o filho Josué, superintendente da Coteminas, sobre o futuro da companhia. Alencar iniciou-se
na vida de homem de negócios aos 18 anos, em Caratinga (MG). Com um empréstimo de 15 mil cruzeiros, alugou em 1950 um
imóvel e abriu o armarinho A Queimadeira.

Muita coisa mudou desde aquela época. Dono de uma das maiores fortunas de Minas Gerais, Alencar tem a produção de suas 11 fábricas espalhadas pelo mundo. Neste ano deve exportar
US$ 155 milhões para países como Estados Unidos. Os ativos da empresa chegam a R$ 1,3 bilhão e em 2001 a expectativa é que
o faturamento ultrapasse pela primeira vez a cifra de R$ 1 bilhão. Depois de consolidar a empresa, Alencar pôde se dar ao luxo de diversificar os negócios. Além da Coteminas, é dono de um hotel,
de uma fazenda, produz duas marcas de cachaça e investiu
até em hidrelétricas. ?Trabalhei muito e tive muita sorte. Mas
o principal foi nunca ter escolhido um caminho sem antes me informar sobre os riscos?.

Colaborou Rosenildo Gomes Ferreira