Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A indústria brasileira encerrou o primeiro trimestre com queda da produção em março e voltou ao nível pré-pandemia, pressionada por veículos em um momento de intensificação das medidas de restrição devido ao recrudescimento da pandemia de Covid-19 no país.

Em março houve recuo da produção de 2,4% em relação ao mês anterior, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A leitura divulgada nesta quarta-feira marcou o segundo mês seguido de perdas na indústria, depois de queda de 1,0% em fevereiro, mas foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de perda de 3,5%.

“O resultado predominante negativo tem a ver com a pandemia, restrições de mobilidade, de deslocamentos, de cadeia produtiva, matérias primas mais caras e escassez e redução na demanda doméstica”, explicou o gerente da pesquisa, André Macedo.

“A fotografia é de claro arrefecimento de produção”, completou.

Com os resultados negativos de fevereiro e março, o setor industrial voltou ao mesmo patamar de antes da pandemia. De acordo com o IBGE, de maio de 2020 a janeiro de 2021 houve ganho acumulado de 40,1%, levando a produção industrial a ficar 3,5% acima do patamar de fevereiro de 2020.

“Mas, com as perdas de fevereiro e março deste ano, nós zeramos esse acumulado que tinha até o mês de janeiro”, disse Macedo.

Ele está ainda 16,5% abaixo do nível recorde registrado em maio de 2011, mas acumula no ano crescimento de 4,4%.

Em relação a março de 2020, houve alta de 10,5%, contra expectativa de aumento de 7,6%, na taxa mais alta desde junho de 2010 (11,2%) e marcando o sétimo mês de crescimento consecutivo. Esses resultados, entretanto, devem-se à base baixa de comparação já que em março de 2020 a indústria já era afetada pelo isolamento social.

Com esses resultados a produção encerrou o primeiro trimestre com recuo de 0,4% na comparação com os três meses anteriores, depois de dois trimestres positivos, com o setor enfrentando no período arrefecimento da atividade.

O mês de março foi marcado por uma piora da pandemia de coronavírus, com o país se tornando o epicentro mundial da doença, e consequente aumento das restrições de mobilidade.

O cenário para frente continua sendo de crise sanitária, com lentidão na vacinação e impactos sobre a atividade de forma geral, além de desemprego ainda elevado no Brasil e inflação alta.

“No mercado de trabalho ainda tem muita gente desempregada, a inflação subiu e a ausência do auxílio emergencial são fatores que explicam o desaquecimento da demanda doméstica”, disse Macedo.

O IBGE explicou que em março as taxas negativas predominaram entre as atividades industriais pesquisadas, sendo que o maior peso veio da queda de 8,4% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, no terceiro resultado negativo seguido.

“Houve nessa atividade uma série de interrupções de processos de produção, paralisações e férias sendo concedidas”, explicou Macedo.

Entre as grandes categorias econômicas, somente a de Bens Intermediários teve alta, de 0,2%. A maior queda foi registrada pelos Bens de Consumo, de 11,0%, enquanto os Bens de Capital apresentaram perda de 6,9% no mês.

De acordo com a pesquisa Focus realizada pelo Banco Central, o mercado enxerga expansão de 5,03% da indústria neste ano, com alta de 2,0% em 2022.

(Edição de Eduardo Simões)

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