O setor industrial manteve em janeiro de 2023 o comportamento negativo que vinha esboçando em 2022. As dificuldades enfrentadas pela indústria estão ligadas ao mercado doméstico, apontou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A produção industrial encolheu 0,3% em janeiro ante dezembro. A pesquisa passou por uma reformulação, com nova cesta de produtos e reponderação de atividades pesquisadas, mas o cenário permanece de baixo dinamismo.

“O ponto mais elevado permanece em 2011, o setor industrial permanece abaixo do pré-pandemia. Aquela organização que a gente tinha da indústria em relação aos seus pontos históricos não mudam”, contou Macedo. “Aquele cenário que a gente tinha permanece.”

A produção operava em janeiro em patamar 2,3% abaixo do registrado em fevereiro de 2020, no pré-pandemia. A indústria estava ainda 18,8% aquém do nível recorde alcançado em maio de 2011.

“O setor industrial em janeiro de 2023 está operando em patamar semelhante ao de janeiro de 2009”, lembrou Macedo.

O pesquisador do IBGE lembra que, a despeito da recuperação mostrada pelo mercado de trabalho ao longo do ano passado, ainda há um contingente elevado de desempregados e geração de vagas marcadas pela precarização.

“A taxa de juros em patamar elevado dificulta o acesso ao crédito e aumenta a inadimplência. São impactos importantes em segmentos mais relacionados ao crédito, como bens de consumo duráveis”, acrescentou Macedo.

A fabricação de bens duráveis encolheu 1,3% em janeiro ante dezembro, enquanto a produção de bens de capital caiu 4,2%. A atividade de veículos, com queda de 6,0% na produção no período, contribuiu para as perdas de ambas as categorias de uso. A menor fabricação de caminhões – devido à entrada em vigor de uma exigência prevista em lei de transição tecnológica para um motor menos poluente – afetou bens de capital, enquanto a redução na produção de automóveis impactou bens duráveis.

“Foi uma queda muito intensa na produção de caminhões em janeiro de 2023. Isso já aconteceu em outros momentos da série histórica, quando houve adaptação a esse programa de redução na emissão de gases”, lembrou Macedo. “Isso já aconteceu de 2011 para 2012.”

No caso da queda na produção de automóveis, o motivo é um mercado doméstico mais fraco, opinou o gerente do IBGE. O consumo de bens duráveis “é muito atrelado ao crédito”, completou. A atividade de veículos teve seu peso na PIM-PF reduzido de 10,1% para 6,2% após a reformulação.

“Mas a gente faz uma consideração que a indústria automobilística tem uma correlação importante com outros setores industriais”, ponderou Macedo, mencionando, por exemplo, o encadeamento da atividade de veículos com a de borracha e material plástico.

A reformação da PIM-PF também aumentou o peso das indústrias extrativas, de 11,16% na série antiga para 14,56% na série nova; de derivados de petróleo, de 10,30% para 13,52%; e de produtos alimentícios, de 13,92% para 15,09%.