27/11/2025 - 18:37
Lideranças de entidades representativas do setor têxtil se reuniram na segunda-feira, 24/11, com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para pleitear do governo federal medidas mais incisivas contra as vendas de produtos chineses no país, cuja prática consideram desleal.
Embora prefiram não revelar o teor do que conversaram com Alckmin, essas entidades têm deixado clara sua insatisfação com a crescente participação dos chineses tanto nas vendas a consumidores finais quanto no suprimento de insumos para o setor.
Em nota para a Dinheiro, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) — uma das entidades presentes ao encontro com Alckmin — informa que tem trabalhado de forma dedicada à agenda da justiça tributária e que, apesar dos avanços no Congresso Nacional em matérias relevantes para manter os princípios constitucionais, a legislação ainda não garante a isonomia no pagamento de impostos.
“A disparidade coloca em xeque a segurança tributária nos setores de desenvolvimento econômico e social do País. Por isso, a ABVTEX entende que o imposto de importação de produtos comercializados por plataformas estrangeiras online, conhecido como a ‘taxa das blusinhas’, contribuiu significativamente para a economia e para os trabalhadores brasileiros”, afirma a entidade.
No entanto, para a ABVTEX, a medida ainda é insuficiente para eliminar a concorrência desleal. Segundo a associação, enquanto indústria e varejo estabelecidos no Brasil enfrentam uma carga tributária de 90%, os sites estrangeiros lidam com a metade deste percentual, 45%, ou, no máximo, 50%, nos nove estados brasileiros que decidiram seguir a recomendação do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e elevaram a alíquota do ICMS para as plataformas internacionais de 17% para 20%.
“A indústria e o varejo brasileiros pagam, em média, 25% de ICMS. Dessa forma, prosseguiremos até a conquista da efetiva isonomia tributária. Não queremos subsídios ou privilégios, queremos apenas competir de forma igualitária frente às plataformas internacionais”, diz a ABVTEX.
Outros representantes do setor têxtil brasileiro ouvidos pela Dinheiro consideram urgente a aplicação do direito antidumping provisório sobre as importações de malhas de poliéster originárias da China. Para eles, da forma que está, o cenário é crítico para a continuidade da produção nacional.
Nos últimos anos, afirmam esses representantes, as importações chinesas cresceram quase 60%, enquanto os preços caíram mais de 50%, chegando a patamares próximos ao custo da própria matéria-prima.
Com isso, a China passou a responder por 99% das importações brasileiras desse produto. Como consequência direta, entre 2022 e 2023, a indústria nacional sofreu queda de 42,9% na receita bruta, 99,6% na receita operacional, deterioração acentuada das margens, redução da produção e das vendas, além de acúmulo de estoques.
“Sem a aplicação do direito provisório, a indústria não conseguirá sustentar suas operações nos próximos meses”, protestou um desses representantes. Ele ressalta que a continuidade dessas práticas desleais compromete toda a cadeia produtiva. “Uma parte relevante da confecção brasileira depende de um abastecimento rápido, flexível e tecnicamente ajustado a cores, padrões, volumes variáveis e prazos curtos — características impossíveis de serem supridas por importações massificadas, especialmente em segmentos como uniformes corporativos, moda de ciclo curto e artigos personalizados. O enfraquecimento da produção de malhas retira desses setores sua vantagem competitiva frente ao produto importado.”
Em sua opinião, quando a produção local se enfraquece ou desaparece, perde-se a agilidade do nearshoring, essencial para responder rapidamente ao mercado. Os segmentos dependentes de especificações técnicas e prazos curtos ficam vulneráveis. As empresas de moda reduzem sua capacidade de desenvolver coleções rápidas e de alto giro. E, após eliminar os concorrentes locais, fornecedores estrangeiros tendem a elevar preços, como já demonstrado pela diferença entre o preço praticado no Brasil e aquele cobrado em outros mercados internacionais.
Além disso, dizem os representantes da indústria têxtil, a confecção brasileira conta com diversas alternativas de suprimento — fibras e tecidos como viscose, elastano, algodão, poliamida, entre outros — o que reduz qualquer risco de pressão de custos.
“É relevante observar que o direito provisório apurado é relativamente baixo frente ao dumping identificado, e não causa perda de competitividade para a confecção”, diz uma das fontes ouvidas pela Dinheiro. “O histórico recente comprova isso: há mais de dez anos, foi aplicado um antidumping sobre malhas de viscose, com valor muito superior ao atual, e não houve qualquer impacto negativo sobre o setor de confecção.”
