Uma disputa entre Luiz Masagão e Jair Ribeiro, os dois copresidentes do banco paulista Indusval & Partners, pode, literalmente, abalar as paredes da instituição. Masagão quer enfeitar com quadros a sala de reuniões do banco, que se mudou no fim de outubro para um luxuoso prédio na zona sul de São Paulo. Mais austero, Ribeiro quer manter as paredes sem adornos. Os dois executivos, ambos com uma longa trajetória de mercado, garantem que essa foi a única discordância entre eles desde que Ribeiro adquiriu 50% das ações do banco, há seis meses. Ambos concordam sobre a estratégia e o rumo dos negócios. Após um período de adaptação aos novos sócios, o Indusval começa a colocar em prática sua nova estratégia de conquistar clientes corporativos, empresas com faturamento entre R$ 400 milhões e R$ 2 bilhões, reduzindo a ênfase nas empresas de médio porte, que faturam a partir de R$ 40 milhões. O novo endereço, depois de quase 40 anos no centro de São Paulo, marca a nova orientação. Ribeiro e Masagão, amigos há mais de 30 anos, dividem a sala da presidência (onde não houve divergências quanto à decoração), mas não as funções. 

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Ribeiro(à esq.)e Masagào: disputa só na decoração da sala de reuniões

Ribeiro cuida dos contatos externos e da captação de recursos, enquanto Masagão, que presidiu a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) no início do anos 90, aprova os empréstimos e trata com os clientes. As mudanças são a face visível de um processo iniciado no começo do ano. Em março, o fundo de investimentos americano Warburg Pincus e Ribeiro injetaram R$ 200 milhões no banco. O banqueiro tornou-se sócio do Indusval por meio da Sertrading, empresa de comércio exterior que controla desde 2005 ao lado do empresário Alfredo Goye. “Tínhamos crescido muito e estávamos pensando em transformar a trading em um banco quando conversamos com Masagão e percebemos que nossos negócios eram complementares”, diz Ribeiro. Sua entrada mudou a forma de o Indusval atuar. Ribeiro é um veterano do mercado. Nos anos 80, fundou o banco de investimentos Patrimônio, que mais tarde se associaria ao americano Salomon Brothers. Mais tarde, atuou em tecnologia da informação e até mesmo em filosofia – em 2004, fundou a Casa do Saber, instituição dedicada à difusão do pensamento filosófico.  

Durante meses, ele e Goye discutiram a estratégia do banco com Masagão e Manuel Felix Cintra Neto, outro sócio do Indusval e também ex-presidente da BM&F. Ao fim do processo, eles haviam definido metas para cada uma das 17 áreas do Indusval. “Passamos a pensar na administração por meio de pessoas”, diz Ribeiro. Os gestores definiram que os empréstimos seriam concedidos para empresas maiores. “As companhias médias seriam o mercado ideal para concessão de crédito, se não fossem os ciclos da economia”, afirma Masagão. “Sempre que há baixa, elas são as primeiras a sofrer.” Fenômeno parecido ocorre com os bancos pequenos. Nas crises, o dinheiro migra para portos seguros. Consequência: nos últimos meses, diversos deles tiveram de se associar a outros ou fecharam suas portas. É o caso, por exemplo, do Matone e do Schahin, vendidos ao grupo JBS e ao BMG, respectivamente, e do Morada, que foi a breca. Na crise de 2008, as ações do Indusval foram duramente prejudicadas. A mudança começou com a limpeza da carteira de R$ 180 milhões de empréstimos definidos por Ribeiro como “não ideais”. Os resultados do terceiro trimestre foram bons. Apesar dos cortes, o total de empréstimos cresceu 6,6% ante o trimestre anterior, somando R$ 2 bilhões. A participação do segmento corporate avançou de 16% para 21% da carteira. 

 

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O lucro líquido foi de R$ 7,3 milhões, ganho de 45,3% ante o trimestre anterior. Para a agência de classificação de risco Fitch, a estratégia do Indusval é adequada ao cenário econômico atual. No entanto, em seu relatório sobre o banco, a agência chama a atenção para “uma possível pressão dos índices de inadimplência, considerando que (…) os clientes, mesmo maiores, atuam em segmentos vulneráveis à reversão do ciclo econômico”. O relatório, assinado por Paulo Fugulin e Luiz Cláudio Vieira, afirma que o “aumento de provisionamento no primeiro trimestre evidenciou problemas do passado e que, agora, o Indusval será capaz de continuar a explorar suas receitas com qualidade”.  A rentabilidade ainda está abaixo da meta. O retorno sobre o patrimônio líquido chegou a 5,2%. Ribeiro quer elevar esse percentual para 15% ao longo dos próximos 12 meses. “A limpeza da carteira levou a um resultado negativo no primeiro trimestre, mas estamos no caminho certo”, afirma. 

 

O prejuízo nesse trimestre foi de R$ 54 milhões com a absorção de despesas de provisionamento de R$ 101,6 milhões. Nos próximos meses,os executivos vão pisar fundo no acelerador. O banco tem R$ 914 milhões em caixa e seu índice de Basileia, que mede a relação entre o patrimônio do banco e seus empréstimos, é de 21%, um dos mais altos do mercado, indicando pouco risco. Em dois anos, a meta é reduzir esse índice para algo entre 16% e 17%. “Tivemos sorte de receber capital em março, quando os nossos concorrentes haviam crescido muito”, diz Masagão. “Com a crise, eles tiveram de parar de emprestar, mas nós estávamos com muito dinheiro em caixa.” Cerca de 80% dos recursos são captados em moeda local. “Nossa base diversificada garante melhores condições de captação”, diz Masagão, que não revela os custos. Os principais clientes atuam no comércio exterior, fruto da herança da Sertrading, e no agronegócio, meio onde o Indusval sempre teve forte atuação. Para os próximos anos, a aposta é na venda de derivativos e nas debêntures, cujas emissões devem crescer com a baixa dos juros nos próximos anos.

 

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