A vida de um economista liberal dentro de um governo conservador não deve ter sido fácil em nenhum momento, mas as últimas semanas foram ainda mais cruéis com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Com os indicadores econômicos pressionando a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, o economista viu subir bastante os pedidos por sua cabeça entre a base política que apoia o atual presidente. Mas na manhã de ontem (9) uma notícia fez o dia do ministro melhor. A inflação desacelerou em maio, para 0,47%, e Guedes não demorou a compartilhar a informação. “A inflação começou a descer, acabamos de ter a notícia”, disse, claramente aliviado, o ministro no Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Ele se refere à divulgação do IBGE de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou para 0,47% em maio, atingindo 11,73% no acumulado de 12 meses. Até abril, a alta havia sido de 12,13%. Em sua defesa, Guedes reforçou que o governo (leia-se, ele) tem tentado encontrar soluções inteligentes (leia-se de baixo impacto fiscal) para ajudar a derrubar o preço dos produtos, em especial de itens como alimentos, energia e combustível. “É um ecossistema, nós temos toda cadeia intermediária na qual estamos fazendo nossa parte, baixando os impostos e reduzindo custos”, afirmou.

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Na avaliação do ministro, entre as ações que servirão para estimular a economia como um todo, e de quebra não impacta nas contas públicas, o saque do fundo de garantia parece ser a grande aposta para o segundo semestre. “Estamos tentando com nossos programas, os saques FGTS são mais de R$ 30 bilhões, a antecipação de benefícios de pensionistas e aposentados são mais de R$ 50 bilhões, o crédito, estamos sustentando a camada de demanda. A massa salarial está aumentando, o Brasil cria 200 mil empregos por mês.”

Questionado sobre o comprometimento fiscal de outra ala do governo (aquela encabeçada por líderes do centrão e por ministros mais dados ao gasto público), Guedes se reservou o direito de certificar que todos no governo estão na mesma página, ainda que seja impossível ter essa certeza enquanto o mesmo teto abrigar economistas liberais e políticos conservadores como se essas duas linhas de pensamento não fossem intrinsecamente opostas.

De qualquer forma, a melhora da inflação fecha uma tríade de bons resultados para o governo nos últimos 10 dias. O desemprego baixou para 10,5%, a economia cresceu 1% e, agora, a inflação deu uma trégua. Uma pena que isso tenha acontecido na mesma semana em que Bolsonaro resolveu voltar a subir o tom contra o STF. Tornou a falar de fraude eleitoral e deu sinais claros de que não aceita nada que não seja a vitória em 2 de outubro, fatores que tem o na frágil economia brasileira o mesmo efeito de uma chuva torrencial e de vento em uma plantação de algodão.