14/10/2021 - 16:14
O fenômeno da inflação alta, dos preços de produtos e serviços cada vez mais descontrolados e do poder de compra caindo como uma consequência disso, são problemas enfrentados em todo o mundo, sobretudo no Brasil, que passa por um processo de desvalorização da moeda e viu na Covid-19 um agravante para a retomada econômica.
A China, principal parceira comercial do Brasil, revelou nesta quinta-feira (14) que a inflação dos preços ao produtor bateu recorde em setembro, subindo 10,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O dado é o maior em 25 anos, desde que a Agência Nacional de Estatísticas começou a compilar os números.
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Por lá, os preços ao produtor estão subindo devido a restrições de produção provocadas por uma crise energética em setembro – que atingiu as indústrias de cimento, aço e alumínio –, além do avanço nos preços das commodities ao redor do mundo. A forte demanda global por carvão, produto que a China depende para alimentar suas centrais de energia elétrica, fez com que apagões e racionamento de energia atingissem algumas regiões do gigante asiático.
Para evitar o repasse desses custos aos consumidores, as empresas e o governo chinês estão absorvendo os aumentos no custo da produção e tentando fazer com que a demanda local volte a ganhar tração. Para setembro, o índice de preços ao consumidor subiu somente 0,7% e, mesmo que internamente a China segure o problema, economistas já acreditam que o país vai exportar essa inflação.
Europa tenta controlar os preços
Nesta quinta-feira (14), o membro do Banco Central Europeu (BCE), Olli Rehn, disse que os gargalos na produção devem manter o ritmo de impactos no bolso dos consumidores da União Europeia. Por isso, explicou ele, manter a estabilidade de preços é “prioridade”.
Em seu perfil no Twitter, Rehn disse que a projeção é que o aumento da inflação será temporário e deve ser resolvido no médio prazo. A inflação da zona do euro deve atingir 4% até o fim do ano, o dobro da meta do BCE.
No Reino Unido, que lida com o Brexit e os reflexos da pandemia comprimindo a economia, a escassez é de trabalhadores em depósitos, caminhoneiros e açougueiros. Para contornar o problema, o governo britânico vai acelerar a liberação de vistos temporários de olho na mão de obra que vai retornar ao país.
E como o brasileiro vai sentir essa inflação aqui?
A resposta para essa dúvida é sentida com uma simples ida ao mercado. Para Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, os problemas de logística, com o custo do transporte cada vez mais alto, do aumento das commodities, da crise no clima e da própria dinâmica que a pandemia impôs às economias no mundo inteiro foram repassados aos consumidores brasileiros, que perdeu o poder de compra. Em sua opinião, esse ritmo só deve desacelerar no segundo semestre do ano que vem.
“Esse processo de inflação deve permanecer ainda em 2022, mas não tão forte quanto nós tivemos nesses últimos 12, 15 meses. Então, temos uma manutenção da subida de preços, mas em uma velocidade menor. Não estamos falando que vai ter uma deflação, não, os preços vão continuar subindo, mas vão continuar subindo em uma velocidade menor”, apontou o especialista.
Professor da ESPM, o economista João Branco aponta três causas para a alta inflacionária:
1 – Demanda;
2 – Oferta, que pode ser vista no desabastecimento;
3 – Conflito distributivo, gerado por insegurança em relação ao futuro.
“O Banco Central vem elevando os juros, na tentativa de conter a demanda, mas o fato é que também estamos em um cenário de inflação de desabastecimento”, apontou ele em nota, atentando para o esfarelamento do real ante o dólar e o interesse dos produtores em ganhar dinheiro exportando produtos ao invés de atender a demanda interna.
Como se proteger da inflação?
Maurício Godoi acredita que o brasileiro pode seguir alguns passos para se proteger da inflação:
A) Fazer um planejamento financeiro priorizando o que for gasto essencial como água, luz, combustível, alimentação, aluguel;
B) Poupar dinheiro investindo em aplicações financeiras que tenham o IPCA como indexador, ou seja, alimentados pela própria inflação.
O que não for essencial vai precisar de uma revisão do consumidor para saber se aquele item é necessário naquele momento ou não.
“Como consumidor, como conseguimos diminuir? Comprando o essencial, o básico, além de fazer muita pesquisa e a substituição de bens. Isso é muito importante, tanto que vimos que tivemos um aumento no consumo de ovo de 25%, praticamente, tivemos uma retração da quantidade de carne sendo consumida e assim por diante”, observou.