Em outubro de 2016, escrevi um artigo opinativo na ISTOÉ Dinheiro sobre a postura cautelosa do Banco Central (BC), que havia reduzido a Selic em apenas 0,25 p.p.. Embora eu tenha afirmado que o BC poderia ter sido mais ousado na queda dos juros, concluí: “Mais vale um Ilan Goldfajn cauteloso do que um Alexandre Tombini leniente”.

Reunião do Copom: Ilan Goldfajn, presidente do BC, liderou o início da trajetória de queda dos juros (foto: Marcelo Camargo Ag. Brasil)
Reunião do Copom: Ilan Goldfajn liderou o início da trajetória de queda dos juros

Hoje saiu o IPCA de 2016: 6,29%. Portanto, Ilan conseguiu entregar a inflação dentro do limite da meta. É uma vitória de todos os brasileiros. Nós não merecemos, nunca mais, ter uma inflação de dois dígitos. Preços elevados corroem a renda dos mais pobres. Inflação alta é um imposto invisível que prejudica os mais carentes. E pior: quanto maior a inflação, maior é o processo de concentração de renda. Os mais ricos se protegem no mercado financeiro e ganham juros altos do governo enquanto os mais pobres não têm nenhuma proteção financeira.

Alguns analistas vão dizer que o Ilan não tem mérito nenhum pela inflação abaixo de 6,5%, pois o País vive sua maior recessão da história. Vale lembrar que o Tombini, com uma queda de PIB perto de 4%, entregou uma inflação acima de 10%. Portanto, no Brasil, não basta uma recessão para derrubar a inflação. É preciso ter um BC com credibilidade para ancorar as expectativas inflacionárias.

Elogio feito ao BC, o próximo passo é acelerar a queda dos juros para ajudar a acabar com o desemprego recorde e crescente. E o debate prossegue conforme o título do artigo: “Cautela é qualidade ou defeito?”. No ano passado, foi qualidade. Neste ano, se o Comitê de Política Monetária (Copom) for muito conservador, será defeito.