Após a decisão do Comitê de Política Monetária de manter a taxa de juros em 13,75%, o governo federal também bateu o pé, afirmando que a Selic já pode baixar. “Acho que já poderíamos iniciar a recalibragem da taxa de juros”, disse o ministro Fernando Haddad na última sexta-feira (5).

Ele acredita que a expectativa de inflação para 2024 ‘já está muito moderada após os esforços da autoridade monetária’. Ainda assim, ele ponderou que, se o BC erra a calibragem nos juros para a contenção da inflação, quem paga é a sociedade.

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O que é inflação e como ela afeta a vida das pessoas?

A inflação pode ser definida como o aumento persistente e disseminado de preços. “Muita gente confunde inflação com preço alto, mas se trata de preço crescente. Então, quando os preços estão, de uma maneira generalizada e persistente, subindo constantemente, a isso chamamos inflação”, explica Matheus Peçanha, economista do FGV IBRE – Instituto Brasileiro de Economia.

“A inflação afeta nossas vidas justamente porque o dinheiro perde o poder de compra. Normalmente os salários e os rendimentos não vão ser reajustados na mesma frequência que os preços estão sendo restaurados no ambiente inflacionário”, completa o economista.

Como a inflação é medida?

Do ponto de vista metodológico, a inflação é um indicador financeiro estatístico mensurado através de pesquisa. A inflação oficial do Brasil é o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, que mede o preço do consumo de vários produtos e esses produtos são ponderados, são relativizados.

“Numa uma cesta básica pesquisada, existem diferentes importâncias; alguns itens são mais e outros menos considerados na hora de formar o indicador. Ou o combustível, que têm impacto direto na inflação: significa que ele tem um peso maior do que um outro dentro do hábito dos hábitos familiares”, compara Gilberto Braga, economista e professor do IBMEC RJ.

“Ao comprar um perfume, isso vai ser capturado na pesquisa, mas na hora da ponderação, ele vai pesar menos do que pesa o preço do litro do combustível ou do gás de cozinha”, finaliza.

E a taxa de juros?

Atualmente chamada de Selic, a taxa de juros é instrumento do Banco Central para combater a inflação. Conforme explica o BC, a Selic refere-se à taxa de juros usada nas operações de empréstimos de um dia entre as instituições financeiras que utilizam títulos públicos federais como garantia. Também influencia em empréstimos feitos por pessoas físicas, compras a prazo, investimentos, entre outras movimentações financeiras.

“Lembrando que a inflação reduz o poder de compra, um jeito de combater esse fenômeno é aumentando a taxa. Se a inflação está aumentando, o Banco Central aumenta o juros para inibir essa escalada de preços”, adiciona Peçanha.

O que diz o governo federal?

Braga explica que a ideia de aumentar ou baixar a Selic, para o governo, quanto menor a taxa de juros, maior é a possibilidade crescimento econômico, de geração de empregos e de expansão da economia.

“Para que se isso ocorra, é preciso que o governo sinalize para o Copom – Comitê controlado pelo Banco Central e que tem mandato independente e sem vínculo com o governo – que o estado brasileiro tem condições demonstrações de que vai controlar as suas despesas. A grande discussão é se o controle das despesas públicas de fato é crível e possível de ser cumprido”, avalia o professor do Ibmec RJ.

O que diz o Banco Central?

Há uma convergência de que, até o final de 2023, a taxa de juros deve cair. “Para o BC, é necessário manter a taxa de juros elevada, pois ela inibe o consumo e o consumo menor faz com que a inflação caia. O Copom tem uma visão estritamente financeira de toda essa discussão, enquanto a do governo é mais ampla”, completa Braga.

Mudanças da Selic para ‘baixo’ são aguardadas apenas para o segundo semestre de 2023, de modo que o que se espera neste momento é a manutenção da taxa, conforme avalia Pedro Raffy Vartanian, professor doutor do Mestrado Profissional em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“A taxa Selic caindo para baixo de 10% ainda esse ano seria um feito dificílimo de acontecer. O mercado espera que haja uma redução na taxa, fala-se de expectativas a partir de setembro e que chegaria a 12%. Portanto, muito distante ainda de uma previsão de juros em um dígito”, explica Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas.

Resumo

  • O governo Lula segue criticando a taxa de juros fixada pelo Banco Central, a 13,75%;
  • Haddad, que chefia a Fazenda, declarou que a baixa da Selic já poderia ser uma realidade;
  • Selic tem previsão de queda apenas para o segundo semestre de 2023, defendem especialistas;
  • Do outro lado, o Banco Central defende que os juros altos controlam a inflação.