Depois de um pico de mais de 12% em abril do ano passado, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cedeu gradativamente e encerrou em 5,79% em 2022. Num ambiente de juros altos, com a taxa básica de juros (Selic) avançando ao longo desse período e atingindo 13,75% ao ano, as aplicações de renda fixa de crédito privado entregaram ganho real expressivo aos investidores, mas com maior risco.

Diante das taxas elevadas, o Índice de Debêntures DI da Anbima (IDA-DI), indicador calculado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que acompanha a rentabilidade de títulos de dívida corporativa (debêntures) atrelados à taxa de depósito interfinanceiro (DI) apresentou valorização 14,56% no ano passado, ou seja, pagaram um prêmio de 8,77 pontos porcentuais acima da inflação.

Em outras palavras, investidores qualificados que aplicam diretamente em títulos de dívida corporativa no mercado ou investidores pessoas físicas que aplicam em fundos DI de crédito privado – que abastecem suas carteiras principalmente com debêntures DI – podem ter alcançando um excelente desempenho nessas categorias. Para simples efeito de comparação, investidores conservadores que aplicaram diretamente em títulos públicos federais Tesouro Selic via Tesouro Direto tiveram ganho médio de 12,74% em 2022, quase dois pontos percentuais abaixo da rentabilidade dos papéis de crédito privado, que possuem risco maior e são indicados para aplicadores de perfil a partir do moderado ou agressivo.

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A questão do perfil para suportar os riscos é muito importante no caso da renda fixa de crédito privado. Embora rendam bem mais que o Tesouro Selic, as debêntures possuem riscos muito maiores. Nos últimos dias, por exemplo, os fundos DI de crédito privado passam por forte volatilidade no mercado, sinal de que o risco de eventual calote em determinadas debêntures ou notas promissórias ou comerciais (títulos de dívida de curto prazo) aumentou.

Entre taxa DI (crédito privado e bancário) e juro Selic (governo), o risco dos títulos públicos federais é sempre menor.

Na visão da analista Paula Zogbi, da Rico Investimentos, a Selic deve se manter em 13,75% ao longo de 2023 e continuar proporcionado ganhos aos investidores na renda fixa.

“Se antes acreditávamos que haveria espaço para que o Banco Central começasse a reduzir novamente os juros em 2023, o aumento do risco fiscal fez descartarmos essa possibilidade – ao menos, por ora. Assim, com um mundo que segue lutando contra a alta de preços, e uma inflação ainda acima na meta em meio ao aumento do risco fiscal por aqui, a Selic deve se manter em 13,75% ao ano ao longo de 2023”, afirmou Paula Zogbi, em relatório divulgado pela Rico Investimentos.

Em conclusão, ainda diante das incertezas sobre as contas públicas, a renda fixa com juros altos indexados à Selic continuará no radar dos aplicadores neste ano, com a possibilidade de ganhos reais sobre a inflação.