Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta terça-feira que a autoridade monetária precisa ser realista quanto à piora da inflação, que aconteceu tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

Ao participar do IX Fórum Jurídico de Lisboa, em Portugal, ele também afirmou que o Brasil está passando por uma situação que ocorre pela primeira vez em décadas, em que enfrenta um problema de inflação interna, ao mesmo tempo em que importa inflação de outros países.

“O número de inflação acelerou e teve piora tanto quantitativa quanto qualitativa, a gente tem enfatizado isso”, disse ele.

“É muito importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação e o quão difícil será o trabalho do Banco Central nesse ponto”, completou.

Em sua fala, Campos Neto reconheceu que o BC tem percebido mais recentemente uma revisão de inflação para cima e de crescimento para baixo em 2022.

Ele voltou a atribuir o avanço de preços na economia ao forte choque em alimentos ocorrido no ano passado e ao novo choque ocorrido neste ano, ligado a eletricidade e combustíveis, que classificou como “o maior dos últimos 20 anos”.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne nos dias 7 e 8 de dezembro para a próxima decisão sobre os juros básicos, atualmente em 7,75% ao ano. No último encontro do colegiado, no fim de outubro, a mensagem era de que outro aumento de 1,5 ponto era antevisto pela autoridade monetária, desde que o cenário não mudasse.

De acordo com a pesquisa Focus mais recente, a expectativa dos agentes econômicos já é de um Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1% no ano que vem, com inflação de 4,79%, ante meta central de 3,5%, que o BC vinha frisando ser possível atingir.

FISCAL

Campos Neto também indicou nesta terça-feira que o aumento do prêmio de risco ligado ao país tem conexão com o fiscal e com os questionamentos sobre a trajetória das contas públicas à frente –algo que se relaciona mais com a visão de quanto o Brasil pode crescer estruturalmente do que com os dados fiscais do dia a dia, que têm melhorado.

Campos Neto disse que a autoridade monetária em geral não fala sobre o tema, mas ressalvou que os desenvolvimentos no front fiscal têm impacto sobre a taxa neutra de juros e, portanto, sobre o trabalho do BC.

“Se eu tenho um mesmo modelo de equilíbrio fiscal com crescimento de 2,5%-3% e uma taxa de juros de 7%, e mudo o crescimento de 2,5%-3% pra 1%, e passo a uma taxa de juros de 8%, eu deixo claramente de ter uma coisa sustentável pra ter uma coisa explosiva”, afirmou ele.

Campos Neto disse que, de um lado, o Brasil precisa fazer um esforço fiscal, sendo “muito importante” acenar com algum corte de gastos. Ele disse, contudo, entender as dificuldades nesse sentido no âmbito do “mundo político”, que “gera suas limitações”.

Por outro lado, ele pontuou que o que vai realmente equilibrar as percepções sobre o Brasil no futuro é a capacidade de o país crescer mais, lembrando que nos últimos sete anos o PIB foi “bastante baixo”.

“É importante deixar mensagem que temos que seguir com as reformas estruturais, (é) a forma de achar esse equilíbrio fiscal com credibilidade. A credibilidade hoje, mais do que nos detalhes do fiscal do dia a dia, está em passar uma mensagem que a gente é um país que tem capacidade de ter crescimento sustentável mais alto”, afirmou.

Sobre o cenário externo, ele frisou que o mundo passará por um processo de normalização dos juros após os estímulos dados durante a pandemia, o que fará com o que o ambiente seja “ainda mais desafiador” para o Brasil.

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