A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reiterou que, apesar da queda significativa da inflação, os juros seguirão elevados na zona do euro por tempo prolongado até que os preços alcancem a meta de 2% de forma sustentada. Na visão dela, ainda existem riscos importantes para as perspectivas econômicas do bloco, como a possibilidade de que os preços de energia voltem a subir, após os “efeitos de base” deixarem as estatísticas nos próximos meses.

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“O nível atual das taxas de juros, se mantido por tempo suficiente, contribuirá para reduzir inflação à meta. Dizemos isto para expressar que tempo de manutenção dos juros não é trivial e será dependente de dados”, disse Lagarde, em evento promovido pelo Financial Times.

Entretanto, ela acrescentou que a estratégia monetária pode ser revisada, caso ocorram novos choques econômicos ou desenvolvimentos inesperados da economia. “Monitoramos constantemente três critérios: desenvolvimentos geopolíticos, dinâmicas de preço – em especial, perspectivas para inflação e núcleo – e velocidade de transmissão da política monetária”, apontou.

Enfraquecimento da economia

Questionada sobre o enfraquecimento da economia europeia, Lagarde confirmou que este é um ponto de preocupação dos dirigentes e destacou três riscos de baixa sob monitoramento do banco central: desaceleração do crescimento global em resposta às dificuldades de recuperação da China; escalada nos preços de energia; e transmissão rápida da política monetária.

A autoridade observou que, considerando todos estes fatores, o BCE está em uma “corrida contra o tempo”, na qual os ajustes de política monetária e emissões do balanço patrimonial precisam ser “cautelosos e efetivos”, principalmente para não ampliar a volatilidade nos mercados de títulos.

Arcabouço fiscal

A presidente do Banco Central Europeu afirmou ainda que “está desconfortável” por ainda não haver um arcabouço fiscal da União Europeia (UE), apesar de ter encontrado algum alívio nas discussões sobre o tema nos encontros de autoridades europeias nesta semana.

“É de importância crítica criarmos um arcabouço fiscal comum para todos os membros do bloco, para que possamos entender sob quais parâmetros os ministros das Finanças da UE tomarão suas decisões”, disse ela.

Euro digital

Questionada sobre o euro digital, Lagarde ressaltou que emitir uma moeda digital soberana (CBDC, na sigla em inglês) é um passo importante para a economia da zona do euro, que permite ao bloco se adaptar as novas dinâmicas do sistema financeiro global.

Contudo, ela reiterou que o processo exige cautela e não há um prazo completamente definido para implementar a moeda. “Não há problema em adiarmos seis meses a implementação do projeto, desde que possamos garantir que a emissão do euro digital será segura e não incorrerá em riscos para o sistema financeiro”, frisou.