10/05/2013 - 6:00
DINHEIRO ? O chamado nó logístico tem amarrado a economia brasileira, nos últimos tempos. Como o sr. avalia esse problema?
MICHAEL MURKOWSKI ? Todos os países, e não só os da América Latina, enfrentam esse mesmo desafio. Investir em tecnologia para inovação e produtividade é muito mais rápido que desenvolver projetos de infraestrutura. Todo projeto de investimento na área leva um tempo para ser concluído, seja de rodovias, seja de ferrovias, ou outras. Pode haver um crescimento vertiginoso de agricultura, mas no final do dia são rodovias, portos e aeroportos que fazem a diferença, e isso não é diferente em nenhum lugar do mundo. O Brasil, por outro lado, é um país único, porque é muito grande. Muitos setores produtivos, especialmente a agricultura, se concentram longe do mar. Mesmo com esforços para melhorar, há outros empecilhos que estendem o tempo necessário para se encontrar as soluções. Até nos Estados Unidos, a infraestrutura está ficando defasada… Trata-se de um grande desafio, especialmente no Brasil.
DINHEIRO ? De que forma esse problema afeta a eficiência da companhia?
MURKOWSKI ? Creio que o ponto central não é sobre a FedEx e de que forma a infraestrutura a afeta, mas como o Brasil é afetado, e, por isso, se move num ritmo abaixo da velocidade global, o que o impede de se tornar mais competitivo. Ele está mais lento que o resto do mundo, na importação e exportação, por exemplo, e aqui as coisas ficam mais caras porque faltam estradas, ferrovias, etc. Não é uma empresa de transporte que está sofrendo, é a economia toda. Mas a presidenta Dilma está no caminho certo. Nós todos desejaríamos que tudo andasse mais rapidamente. O positivo é que as conversas, as negociações para mudar esse quadro já começaram, e isso é muito bom de ver. Em outros países as conversas nem começaram.
DINHEIRO ? Essa lentidão para implementar mudanças deixa os agentes econômicos muitos ansiosos. Na sua opinião, isso faz parte do jogo?
MURKOWSKI ? Nós, na FedEx, ficamos tremendamente animados com a economia brasileira. Vocês têm grande parte da população bem-educada, têm enorme quantidade de recursos naturais, como minério e óleo, e ainda são grandes produtores de alimentos. Tudo está aqui. E ainda tem a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos chegando.
DINHEIRO ? Mas o País tem um Congresso que não é tão bom assim…
MURKOWSKI ? (risos). É preciso encontrar o caminho para tornar o País mais eficiente. Isso é o que fará a diferença no nível de sucesso da Nação. A China, por exemplo, identificou as áreas nas quais havia deficiência de engenheiros e trabalhou uma política específica para elas. Isso foi o que os Estados Unidos fizeram, o que a Europa fez. Não podemos esperar manter o mesmo ambiente, a mesma infraestrutura de 20 anos atrás, porque os desafios são outros.
Frota da Rapidão Cometa, companhia de logística que fatura R$ 1 bilhão,
comprada em meados do ano passado
DINHEIRO ? As projeções negativas sobre o crescimento e a inflação do País não o assustam?
MURKOWSKI ? Investidores que contam só com dias ensolarados vão se desapontar sempre. Há dias chuvosos e dias com sol, ciclos de alta e ciclos de baixa, há dias e noites. Se quiser ser bem-sucedido em negócios, é preciso investir no longo prazo. Investe-se em pessoas, em tecnologia, e investe-se num país. Você se torna parte da solução. Nós trazemos soluções para os problemas. As pessoas precisam se tornar mais eficientes. E produtividade é uma grande oportunidade para o Brasil.
DINHEIRO ? As taxas de crescimento tímidas do PIB do Brasil não o incomodam?
MURKOWSKI ? O crescimento do mercado doméstico e regional é muito sustentável. Há inúmeras oportunidades de crescer. A exportação de grãos e minério da China, por exemplo. Isso gera um fluxo de capital para o Brasil, que passa a investir em infraestrutura, o que gera mais empregos, e, por consequência, mais consumo, que vai demandar mais produção. É um ciclo muito virtuoso. Por isso a FedEx fez uma aquisição tão grande como a Rapidão Cometa, do Recife, que foi nossa parceira por 11 anos, e que adquirimos em meados do ano passado.
DINHEIRO ? Qual o impacto da notícia de que os portos brasileiros vão trabalhar 24 horas por dia?
MURKOWSKI ? Tem impacto positivo para todo mundo, pois tira-se a pressão das rodovias. Ou seja, é bom para a economia em geral. É bom inclusive para mim e para você, que dirigimos na Marginal do Tietê, com seu trânsito lento devido ao excesso de caminhões. E também, é claro, para a FedEx é importante para melhorar a movimentação de mercadorias. Idem para os navios, que não vão precisar ficar parados tanto tempo, para agricultores, e até para os eventos, como os Jogos Olímpicos, que poderão contar com a importação rápida de todos os itens que forem necessários para sua realização, em curto espaço de tempo. Essa agilidade é uma questão crítica para um evento do gênero.
DINHEIRO ? É possível dizer que a FedEx é capaz de dobrar sua capacidade de importar, por exemplo, com os portos funcionando o dia todo?
MURKOWSKI ? Não sei se é uma correlação tão simples assim, pois, para garantir mais eficiência a ponto de dobrar a capacidade, você precisará dobrar o número de caminhões na estrada, vai precisar de pessoas trabalhando com mais produtividade e vai demandar uma infraestrutura mais eficiente.
DINHEIRO ? Quais foram os investimentos mais importantes para aumentar os ganhos de produtividade?
MURKOWSKI – Além da incorporação da Rapidão Cometa, investimos na infraestrutura interna, com mais de 200 veículos adquiridos em janeiro passado, e a redução da vida útil da frota, que caiu de 5,6 anos para 2,8 anos, foi importante para reduzir também a emissão de carbono. Também investimos em mais caminhões, ampliamos a força de venda, investimos em treinamento, e, mais importante que tudo, em tecnologia.
Navio ancorado no Porto de Suape, no Grande Recife
DINHEIRO ? Qual é a importância da Rapidão para os negócios?
MURKOWSKI ? A combinação da infraestrutura da Rapidão Cometa com a da FedEx nos transformou na maior empresa privada de transporte e logística integrada do Brasil. Ganhamos um portfólio de serviços complementar. A FedEx já transportava por avião para o exterior e agora importará e distribuirá com a infraestrutura da Rapidão Cometa, utilizando a marca FedEx (o nome Rapidão desaparecerá em julho de 2014). E passaremos a trabalhar com uma gama de serviços similar à que é oferecida nos Estados Unidos. Depois da integração das empresas, vamos focar em maior confiabilidade, investindo em rastreamento com tecnologia de ponta, em horário definido de entrega e devolução do dinheiro se não for cumprido o prazo combinado.
DINHEIRO ? Quanto o Nordeste representa hoje no faturamento?
MURKOWSKI ? Está numa fase inicial de crescimento. O Sudeste talvez represente 70% dos negócios, de modo geral, no Brasil, mas o crescimento acontece no Nordeste. A infraestrutura está se desenvolvendo com o Porto de Suape. O Brasil é muito grande e, para ser competitivo, é preciso estar nas duas regiões.
DINHEIRO ? Qual o papel do Porto de Suape na estratégia de crescimento?
MURKOWSKI ? Um dos valores que trazemos ao Brasil é a possibilidade de distribuição intrafronteiras. Agora, podemos trazer tudo, via Suape, de países como EUA ou China e contar com distribuição própria, pela estrutura da Rapidão Cometa. Realmente, será um negócio multimodal.
DINHEIRO ? O que é transportado por via marítima?
MURKOWSKI ? Através da FedEx Trade Networks, nosso braço marítimo de carga, transportamos produtos de valor agregado, como eletrônicos, que importamos do mundo todo. Suape é um porto que nos permite trazer mercadorias da Europa e dos EUA. Quando as rodovias e ferrovias na região melhorarem, isso trará um grande impacto no País.
DINHEIRO ? A FedEx fatura US$ 44 bilhões e tem mais de 300 mil empregados no mundo. Está na lista das melhores empresas para se trabalhar. O que há de especial?
MURKOWSKI ? Estamos entre as dez melhores empresas para as mulheres trabalharem, segundo a revista Fortune. Isso acontece porque a companhia dá oportunidades aos seus funcionários. Não abrimos vagas para fora sem dar chance ao nosso pessoal internamente. É um valor da companhia, faz parte da sua história. Seguimos o padrão ?pessoas, serviços e lucros? (people, service, profit). A ordem desses fatores é muito importante, pois se você cuidar das suas pessoas, elas farão um esforço extra para fazer um bom serviço, o que no final significa lucros para a companhia.
DINHEIRO ? De outra maneira não funciona essa equação?
MURKOWSKI – Se os lucros vierem antes das pessoas, elas acabam descuidando do serviço. Temos pesquisas internas contínuas para identificar as principais queixas e preocupações dos funcionários, para saber se as pessoas na companhia trocariam a empresa por outra oferta de emprego, pelo mesmo salário. E as pessoas nunca escolhem outra alternativa. É uma cultura.