21/07/2020 - 14:25
Os separatistas e os partidários de seguir pertencendo à França apresentaram suas respectivas campanhas para o referendo sobre a independência da Nova Caledônia, em uma atmosfera que está se radicalizando e que faz temer conflitos.
Em um primeiro referendo em 2018, os habitantes desse arquipélago francês, que está situado cerca de 1.500 quilômetros a leste da Austrália e que possui grande autonomia, votaram contra a independência (56,7%).
Muitos dos que votaram “não” temem as consequências na economia do arquipélago caso se separem da França. O Estado francês disponibiliza a cada ano 1,3 bilhões de euros ao arquipélago.
Segundo o Acordo de Noumeá, de 1998, pode haver uma terceira votação em 2022 caso os caledônios voltem a recusar a independência no referendo de 4 de outubro.
– Velhas tensões –
Muitos temem que esse referendo de autodeterminação reacenda velhas tensões entre os índios canaco, os indígenas da Nova Caledônia, e os brancos que se estabeleceram no arquipélago.
O local abriga um quarto do suprimento de níquel do mundo, um componente vital na fabricação de produtos eletrônicos.
Segundo Pierre Christophe Pantz, doutor em geopolítica, os partidos de união, que defendem a manutenção do arquipélago na França, e os partidos de independência, lançaram neste ano uma campanha “muito mais ofensiva do que em 2018”.
Elie Poigoune, membro do comitê que busca garantir que a campanha ocorra sem problemas, concorda que “as posições são muito mais duras em 2020”.
“O ódio, a violência e a exclusão são caminhos fáceis”, acrescenta Poigoune, que fez um “pedido por calma”.
Vários incidentes abalaram a campanha. Há dez dias, houve a queima de uma espécie de bandeira enorme pintada nas cores da França, que havia sido colocada por ocasião do feriado nacional francês.
O autor do incidente, que alegou tratar-se de um ato político, foi condenado a 12 meses de prisão.
– “Roubo dos recursos naturais” –
Por sua vez, no último domingo, os partidos da união reuniram entre 5.000 e 8.000 pessoas em Numea para um piquenique “Azul-Branco-Vermelho”, as cores da bandeira francesa.
“A ideia não é ter vergonha desse orgulho de ser francês”, explicou Sonia Backès, presidente da província do sul.
Ela se mostra satisfeita por, em derrogação ao código eleitoral, o Estado ter autorizado o uso da bandeira tricolor na campanha oficial, ao contrário do que aconteceu em 2018.
Medida essa que irrita a FLNKS (Frente Nacional Socialista de Libertação Nacional de Canaco), a coalizão de independência, que até ameaçou impugnar o resultado do referendo.
Essa coalizão, que iniciou sua campanha no sábado passado, apresenta uma série de posições radicais.
Entre os pontos principais está a denúncia ao “roubo dos recursos naturais”, ameaçando “mobilizar-se” para se opor ao desejo dos grupos de mineração que visam aumentar suas exportações de níquel, com o apoio dos partidos da união.
Décadas de ressentimento, especialmente pelos milhares de hectares de terras retiradas dos povos indígenas pelos colonizadores, resultaram em confrontos mortais na década de 1980.
A violência, que tirou mais de 70 vidas, culminou no Acordo de Noumeá, em 1998, que abriu caminho para um processo de descolonização ao longo de vinte anos, algo sem precedentes na história francesa.