Samuel Klein, o dono das Casas Bahia, não tem lojas na Bahia. Nem no Ceará, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte ou em qualquer outro Estado do Nordeste. Toda vez que lhe perguntam sobre a ausência em uma das maiores regiões do consumo popular do País, ele diz que a prioridade é o Sudeste e o Sul. E explica que para cumprir o compromisso da rede de entregar mercadorias em até 48 horas seria necessário montar um megacentro de distribuição no Nordeste, o que exigiria investimentos grandiosos, algo fora de questão no planejamento atual da companhia. Mas há outro motivo além da logística. Um ?motivo? com sede no km 3,5 da Estrada Aeroporto Arembepe, no município de Lauro de Freitas (BA). É lá que funciona o escritório central da rede A Insinuante, que nasceu como loja de calçados e em cinco décadas se transformou na maior cadeia de móveis, eletrodomésticos e produtos eletrônicos do Nordeste. Trata-se de uma espécie de Casas Bahia da Bahia. São 160 lojas em Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e, claro, a terra natal. E se Samuel Klein não quer pisar no território da rede baiana, a rival, por outro lado, já arriscou alguns passos no Sudeste: tem lojas no Rio e no Espírito Santo.

A Insinuante foi fundada em 1959 pelo pernambucano Antenor Liberal Batista. Hoje, aos 82 anos, ele ainda vai todos os dias à sede da empresa. Raramente dá entrevistas, assim como seu filho Luiz Carlos, presidente do grupo. Na semana passada, DINHEIRO procurou pai e filho em Lauro de Freitas. Foi informada que eles não poderiam ?se manifestar?, pois estavam ocupados com a inauguração da primeira megaloja da rede em Salvador. Com 10 mil m2 (5 mil m2 para a loja), a unidade ocupa um quarteirão inteiro na Avenida Paralela, um dos corredores entre Salvador e Lauro de Freitas, e vai marcar uma nova fase de expansão de A Insinuante. A loja terá além de móveis e eletrodomésticos novidades como equipamentos de informática e artigos de decoração. ?Ela atenderá todas as classes. Teremos itens populares mas também produtos de ponta, como a linha de tevês de plasma?, conta Marconi Machado, diretor da Insinuante. Além de megaunidade, a empresa fechará 2004 com mais 25 lojas. ?Nossas vendas vão crescer 40% em relação a 2003?, prevê Machado. No ano passado, o faturamento foi de US$ 209 milhões.

Assim como as Casas Bahia, A Insinuante tem no crediário seu grande trunfo para conquistar a clientela. Mas diferentemente da rede de Samuel Klein, consegue atingir também as classes A e B em algumas lojas. ?As opções desse tipo de varejo no Nordeste, desde a derrocada da Arapuã, se tornaram escassas, o que, em parte, ajudou no fortalecimento da Insinuante?, avalia Marcos Gouvêa de Souza, da consultoria GS&MD. De acordo com analistas mercado, mais de 80% das vendas do grupo são feitas a prazo. Nas lojas da Insinuante, pode-se dividir a compra em até cinco vezes sem juros ou em 18 vezes com taxas de 5,99% ao mês (a Casas Bahia cobra 4,5%). ?Redes como Insinuante e Bahia podem não ter as melhores taxas, mas têm boas condições de pagamento para o consumidor de baixa renda?, diz o consultor Gouvêa de Souza.

O varejo é parte mais visível do Grupo IN, a holding de Liberal Batista. Mas o empresário controla ainda outras cinco empresas em outras áreas: a financeira BPN, a Coluna (que administra os imóveis do grupo), a Apoio (call center), Indados (informática) e a DTL Brasil, de logística. Essa última cuida exclusivamente das Lojas Insinuante. Conta com uma frota de 300 caminhões e mantém uma central de armazenagem na Bahia, além de 30 entrepostos espalhados pelo Nordeste. O sistema é semelhante ao das Casas Bahia, com um galpão central de distribuição e armazéns menores que reforçam a operação. A frota de Samuel Klein também é própria e conta com 870 caminhões. Outra semelhança entre Insinuante e Casas Bahia pode ser vista na TV. A maior anunciante do País fez famoso um garotão espevitado que circulava no interior das lojas gritando: ?Quer pagar quanto??. A maior rede de varejo do Nordeste tem também um jovem agitado, zanzando em meio a eletrodomésticos e móveis, dizendo: ?Aqui você manda!?. Pelo visto, quem manda na Bahia é A Insinuante.