#Foodporn, #nofilter e #TBT: pouco conhecido pelo grande público há uma década, o Instagram ganhou espaço no dia a dia de um bilhão de pessoas, mudando a maneira como comemos, viajamos e consumimos.

Em 6 de outubro de 2010, dois americanos, Kevin Systrom e Mike Krieger, lançaram o Instagram como uma rede social dedicada ao compartilhamento de fotos. A novidade? O aplicativo oferecia filtros para ajustar brilho, contraste e cor para criar a foto perfeita em um instante.

Foi um sucesso imediato. O aplicativo foi comprado pelo Facebook dois anos mais tarde, quando já tinha se tornado a plataforma mais popular do momento para postar uma enxurrada de selfies.

Exposições, jantares, nos transportes públicos ou nas férias, todos os cantos tinha se tornado cenário para a captura de um autorretrato para consumo público.

“Entramos na era da ‘realidade da internet’, em que alguém só pode existir por meio do que publica nas redes sociais. Posto selfie, logo existo”, disse Michael Stora, psicólogo e presidente do coletivo francês de pesquisa Observatório de Mundos Digitais em Ciências Humanas (OMNSH).

Dez anos após seu lançamento, o Instagram evoluiu muito além das selfies, redefinindo “experiências” e borrando os limites entre a realidade e a marca pessoal cuidadosamente moldada de cada um.

– Vitrine virtual –

O aplicativo se tornou a plataforma favorita de marcas de luxo, em especial as de fast-fashion, que desenvolveram poderosas estratégias de marketing para atrair milhões de usuários na plataforma.

Um função para compras introduzida no ano passado transformou o Instagram em um site de e-commerce, permitindo que empresas usem seus perfis como vitrines virtuais para que os usuários façam compras sem jamais sair do aplicativo.

Ele também lançou inúmeras carreiras de “influenciadores” digitais que produzem conteúdo diário para seus leais seguidores, enquanto fecham negócios com patrocinadores pelo caminho.

“Enviam para mim o produto e eu providencio todo o serviço em torno dele… As marcas não precisam mais recorrer a uma agência de publicidade. Nós cuidamos de tudo”, disse Pauline Privez, uma influenciadora de moda e beleza desde 2009.

O Instagram também tornou as marcas de luxo mais acessíveis, já que elas podem interagir diariamente com os usuários por meio de suas próprias contas, apontou a historiadora de moda Audrey Millet.

“Ao publicar conteúdo livremente, elas se abrem para todos, eliminando a imagem esnobe associada a elas”, disse Millet.

– Guias de viagem –

O aplicativo também revolucionou a experiência gastronômica. Restaurantes podem contar com fotos meticulosamente produzidas ou cliques sensíveis em seus ambientes aconchegantes para atrair novos clientes. É possível até reservar uma mesa em alguns restaurantes diretamente pela rede social.

O Instagram virou um lugar para buscar inspiração na cozinha, onde qualquer um pode acessar as receitas de chefs famosos que investiram pesado na plataforma, como Jamie Oliver, que tem 8,3 milhões de seguidores e publica novas receitas diariamente.

Maelle Bourras, uma parisiense na casa dos 30, segue “cerca de 15 chefs”, incluindo Alain Passard, que é seguido por meio milhão de pessoas, e Cyril Lignac, com 2,5 milhões de seguidores.

“Nos fins de semana, tento reproduzir algumas das criações deles. É grátis e acessível, e me permite variar dos pratos habituais”, contou Bourras.

Outros usam o Instagram para escolher suas próximas férias. As agências de turismo dependem fortemente dos criadores de conteúdo para promover seus destinos.

Influenciadores digitais como Privez postam suas “experiências” e são pagos por isso, fora as viagens gratuitas. Com 140 mil inscritos, Privez faz entre seis e sete “viagens patrocinadas” por ano, “sem contar as viagens de imprensa de dois dias”.

Por todo o mundo, museus e “experiências” pop-up estão cada vez mais oferecendo instalações interativas apenas para que visitantes tirem selfies e as postem no Instagram e outras mídias sociais.

– Pressão pela perfeição –

Nem todas as celebridades das redes sociais estão lá pelo dinheiro. Sylvain Hawawini, conhecido como Dr. Shawa Vet por seus 107 mil seguidores, posa com animais em centenas de fotos de locais ao redor do mundo, para que outros possam “descobrir paisagens ou lugares ainda pouco conhecidos”.

A busca insaciável por “curtidas” no Instagram tornou a plataforma viciante para alguns e pode ter efeitos devastadores, especialmente para os mais jovens, segundo o psicólogo Stora, do OMNSH.

O Instagram dá aos adolescentes uma falsa sensação de realidade e coloca pressão por uma perfeição “que eles não podem atingir”, disse ele.

Influenciadores também sentem a pressão. “Sou forçado a permanecer (no Instagram) por minha vida profissional, mas na vida pessoal, estou ficando cada vez mais distante dele”, relatou Privez.