No Brasil, o tempo entre decidir comprar e efetuar o pagamento nunca foi tão curto. Com a consolidação do Pix e o avanço das carteiras digitais, a instantaneidade deixou de ser um diferencial e passou a ser o novo padrão de consumo, o que não apenas altera processos financeiros, mas também mostra uma verdadeira transformação no comportamento. De acordo com um levantamento da Febraban, com base em dados do Banco Central do Brasil e da Abecs, o Pix registrou 63,8 bilhões de transações em 2024, um salto de 52% em relação às 41,9 bilhões de operações em 2023. Para efeito de comparação, todos os outros meios de pagamento somados — como cartões de crédito, débito, boletos, TEDs e cheques — totalizaram 50,8 bilhões no mesmo ano. Ou seja, o jeito mais rápido de transacionar movimentou sozinho mais do que todos os demais juntos.

Esse avanço expressivo reflete algo maior do que uma evolução tecnológica: mostra como a agilidade no pagamento vem redefinindo as expectativas dos consumidores. Para Priscila Barbierato, head comercial hunter da Entrepay, o Pix não representa apenas um novo meio de pagamento, ele inaugura uma mudança de mentalidade. “Hoje, o consumidor não quer apenas rapidez. Ele espera que tudo seja resolvido no tempo dele e esse tempo, na maioria das vezes, é agora. Isso altera completamente a régua de exigência no mercado.”

Essa nova lógica também tem impactos diretos no comportamento financeiro. Segundo uma pesquisa da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) em parceria com o SPC Brasil, 43% dos consumidores brasileiros afirmaram ter feito compras por impulso em 2024 — boa parte delas utilizando meios de pagamento digitais, como o Pix. O estudo ainda aponta que consumidores mais impulsivos apresentam maior risco de inadimplência: entre eles, 40% estão com contas atrasadas ou nome negativado. A redução de barreiras no momento do pagamento estimula decisões menos planejadas. Se antes havia tempo para repensar uma compra até o boleto compensar, hoje o dinheiro sai da conta em segundos. “A instantaneidade transforma também a jornada emocional com uma marca ou loja. Quando o cliente encontra um processo fluido e sem atrito, há mais chances de recompra e até de fidelização. Mas quando algo trava, ele desiste e parte para outra com a mesma velocidade”, destaca Priscila.

É exatamente para acompanhar essa nova cadência que empresas vêm reestruturando suas operações. Processos como conciliação, fluxo de caixa e atendimento ao cliente agora precisam ser ágeis — e muitas vezes automatizados. “Estamos diante de um novo timing de consumo, e isso exige que os negócios repensem seus fluxos e prioridades. Velocidade, nesse cenário, não é mais luxo, é pré-requisito”, reforça a head da Entrepay. Com o avanço do Open Finance e a chegada de APIs que tornam os sistemas cada vez mais conectados e imediatos, a tendência é que a cultura do “agora” venha para ficar. E entender essa dinâmica é essencial para quem deseja competir — ou simplesmente continuar relevante — em um mercado em aceleração.