18/12/2025 - 8:00
Apesar da ampla adesão dos chatbots de Inteligência Artificial (IA), executivos projetam que o real impacto da tecnologia, na verdade, ainda não chegou – e que esse impacto é pouco previsível e causará mudanças drásticas no mundo e no mercado.
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Ao Dinheiro Entrevista, o Presidente da Dell no Brasil, Diego Puerta, declarou que vê esse como o cenário mais provável. Como exemplo, faz uma analogia com o surgimento do smartphone, explicando que inicialmente a tecnologia chamava atenção por si só e pelas suas funcionalidades então inovadoras, mas as maiores mudanças vieram com as portas que foram abertas com elas.
“Quando o iPhone foi lançado, um movimento emblemático, o mundo todo falou sobre, mas ninguém imaginou que iria aparecer uma empresa que iria mudar o destino dos meios de transporte [Uber] ou da hotelaria [Airbnb]. Eu não estou dizendo que necessariamente vai surgir uma empresa, um aplicativo, mas vão surgir negócios e aplicações que a gente sequer consegue hoje visualizar hoje. A gente ainda não enxerga”, explica.
“A gente ainda não viu todo o potencial por conta das possibilidades. A IA tem capacidade de analisar dados, e aí não são só as palavras, são informações, são dados, são sons. A IA tem a capacidade de interpretar som e tomar decisões por por causa disso. Imagina o número de aplicações com os devices de acesso que temos hoje. Uma colheitadeira nova tem mais sensores do que o Apollo 11 que foi à lua”, completa.
Diego Puerta ainda endossou a tese de que companhias AI First e que nascem agora devem ter uma competitividade substancialmente maior do que as demais, que precisam se modernizar e reorganizar fluxos e processos.
Executivos de tecnologia têm feito afirmações nesse sentido, como o CEO da Zenvia, que declarou que a maior ameaça para as empresas já consolidadas atualmente são as novas companhias que nascerão usando Inteligência Artificial na maioria dos processos.
Puerta, da Dell, frisa que as companhias de hoje precisam ‘reestruturar dados e consolidar bases’, o que toma recursos mas é necessário à medida que a qualidade do uso de IA em uma empresa depende da qualidade dos dados.
“Se você não tem os dados organizados e estruturados, você vai ter uma solução muito ruim. Então, uma grande companhia tem que fazer um trabalho extenso de base, adequar os dados, entender onde vai ter o use case, onde faz sentido usar, para então começar a implementar. Um nova empresa já vai sair desenhada para isso, com esse novo modelo, vai ter um nível de agilidade muito maior.”
Inteligência Artificial não vai matar o PC
Apesar da popularização da Inteligência Artificial, Puerta não vê a Dell perdendo uma das suas principais linhas de receita: a venda de PCs e notebooks.
A avaliação é de que, com o advento dos agentes de IA, chatbots e ferramentas análogas, o PC deve seguir com protagonismo dentro do ambiente corporativo.
“O PC é e vai continuar sendo a grande ferramenta de produtividade – mesmo que tenha outros devices que tragam conectividade. O PC é o que traz a produtividade. Os trabalhos são realizados onde acontecem as grandes transformações, por isso acreditamos que o PC continua sendo o eixo fundamento do ambiente corporativo”, afirma o General Manager da Dell em entrevista à IstoÉ Dinheiro.
Nos últimos dez anos o mercado de PCs sofreu uma retração relevante, saindo de cerca de 300 milhões de unidades em meados de 2014-15 para 262 milhões no acumulado de 2024, representando uma queda de mais de 30 milhões, segundo dados do International Data Corporation (IDC).
Essa tendência de queda alcançou um ponto notável em 2023. O Gartner, outra consultoria, relatou que as remessas totais para o ano foram de 242,3 milhões de unidades, registrando o volume mais baixo em sua série histórica. Simultaneamente, a IDC reportou 252 milhões de unidades remessas para o mesmo ano.
O primeiro trimestre de 2023, em particular, refletiu a correção do mercado pós-pandemia, com o Gartner documentando uma queda de 30% nas remessas em relação ao primeiro trimestre de 2022.
Apesar da queda de longo prazo, ambos os relatórios apontam para uma estabilização e um crescimento modesto para 2024. A IDC e o Gartner projetam taxas de crescimento anuais de 1,0% e 1,3%, respectivamente, para o total de 2024 em comparação com 2023.
Os analistas atribuem a recuperação a fatores como o ciclo de atualização de hardware impulsionado pelo fim do suporte ao Windows 10 e a introdução de novos modelos de PCs com capacidades de Inteligência Artificial (AI PCs).
Puerta, da Dell, frisa justamente que espera que o mercado ‘cresça ainda mais com as possibilidades que IA traz’.
“Com o advento da IA, o PC passa ter um papel ainda ias relevante, seja através de um IA PC que em que você consegue extrair valor dos dados do seu PC sem estar conectado, seja como usuário, gerindo e analisando dados da solução de IA da sua companhia. O PC vai ser um eixo fundamental desse novo mundo acelerado pela IA.”
Atualmente a companhia domina uma fatia de 15% de market share global de notebooks e computadores pessoais. Essa fatia sobe para 22% olhando somente para o mercado doméstico, no qual a Dell é líder, e ultrapassa 25% em se tratando do mercado corporativo.
