28/10/2020 - 10:47
Quando os pais de um adolescente assassinado durante o pior tiroteio já registrado em uma escola de ensino médio dos Estados Unidos receberam a proposta de uma agência de publicidade para “ressuscitar” seu filho em um vídeo para as eleições, eles não hesitaram nem por um segundo.
“Você está entrevistando os pais de um menino que foi assassinado em sua escola, é preciso muito mais para nos impressionar. O nível é muito alto. Dissemos sim, imediatamente”, conta à AFP Manuel Oliver, que vive na Flórida com sua esposa Patricia.
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A vida de Joaquín – nascido na Venezuela e levado aos Estados Unidos com apenas três anos – foi interrompida aos 17 anos em 14 de fevereiro de 2018, quando um atirador o matou ao lado de outras 16 pessoas na escola em que estudava em Parkland. Desde então, a vida de seus pais se transformou e eles viraram dois militantes contra as armas de fogo.
Eles forneceram à agência fotos de seu filho e um ator que se parece com Joaquín gravou uma mensagem. Depois, com o apoio da inteligência artificial (IA), um software substituiu o rosto do intérprete pelo de seu filho, como se fosse uma máscara digital.
O vídeo final, publicado no início de outubro no unfinishedvotes.com, dura um minuto: “Eu, sou eu”, diz Joaquín com sua touca na cabeça e em frente a uma quadra de basquete.
“Me fui há dois anos, mas nada mudou. As pessoas continuam morrendo por armas de fogo”, afirma o jovem.
“A eleição de novembro é a primeira em que eu poderia votar, mas nunca poderei escolher o tipo de mundo em que teria gostado de viver”.
“Votem por mim, porque eu não posso”, concluiu.
Quando se fala de “deepfakes”, os vídeos ultrarrealistas gerados por inteligência artificial, costuma-se pensar no pior (as imagens trocadas de políticos dizendo coisas que não disseram ou em pornografia falsa com rostos de famosos). Embora outras vezes também seja usada com objetivos muito mais louváveis (como os atores ressuscitados no cinema, ou as pessoas paraplégicas que têm a oportunidade de dançar).
O vídeo de Joaquín é, no entanto, um caso à parte. É ético fazer um jovem morto falar, mesmo se for por uma boa causa?
“Este é o exemplo perfeito do bom uso dessas tecnologias”, defende Manuel.
E aos que insultam – como pode ser observado na caixa de comentários do vídeo no YouTube -, o pai pergunta indignado o que é verdadeiramente imoral, seu vídeo “ou a forma como os políticos administram a violência por armas de fogo neste país?”.