01/02/2017 - 15:03
Cientistas internacionais encontraram pela primeira vez uma maneira de se comunicar com pessoas que ficaram completamente paralisadas por doenças do neurônio motor, e descobriram que elas se consideram felizes, segundo um estudo publicado na terça-feira na revista científica PLOS Biology.
O estudo se baseou em quatro pacientes com síndrome do encarceramento total, que não conseguem mover nenhum músculo devido à esclerose lateral amiotrófica (ELA, também chamada de doença de Lou Gehrig), que destrói a parte do sistema nervoso responsável pelo movimento.
Os portadores da síndrome do encarceramento, também conhecida como ‘locked-in’, têm o corpo totalmente paralisado, mas conseguem mover os olhos. Quando o paciente perde os movimentos oculares, a síndrome passa a ser do encarceramento total.
Além de serem incapazes de piscar ou mover os olhos, os pacientes com síndrome do encarceramento total respiram com a ajuda de um ventilador mecânico.
Usando uma interface não invasiva cérebro-computador que mediu as mudanças nos níveis de oxigênio no sangue, os pesquisadores foram capazes de detectar se os pacientes estavam pensando “sim” ou “não” em resposta a uma série de perguntas, com uma taxa de precisão de cerca de 70%.
Algumas das perguntas eram simples, como perguntar a uma mulher se o nome de seu marido era Joaquim, ou se Berlim era a capital da França.
Um homem foi questionado sobre se sua filha deveria se casar com o namorado, e respondeu “não” em nove de cada 10 vezes.
Os quatro pacientes do estudo foram perguntados: “Você é feliz?”, e todos responderam consistentemente “sim”, durante semanas de questionamento.
“Nós fomos surpreendidos inicialmente pelas respostas positivas quando questionamos os quatro pacientes com ‘locked-in’ sobre sua qualidade de vida”, disse o autor principal do estudo, Niels Birbaumer, professor no Centro Wyss para Bio e Neuroengenharia, em Genebra, na Suíça.
“Todos os quatro aceitavam a ventilação artificial para manter sua vida, quando respirar se tornou impossível”, acrescentou.
Até agora, os pesquisadores acreditavam que as pessoas com essa condição eram incapazes de se comunicar porque não tinham o pensamento direcionado a objetivos, necessário para usar uma interface cérebro-computador.
“Os resultados impressionantes derrubam minha própria teoria de que as pessoas com síndrome de encarceramento total não são capazes de se comunicar”, disse Birbaumer.
“Descobrimos que os quatro pacientes que testamos foram capazes de responder às perguntas pessoais que lhes fizemos, usando apenas seus pensamentos”, acrescentou.
“Se pudermos replicar este estudo em mais pacientes, acredito que poderíamos restaurar a comunicação útil em estados de encarceramento total para pessoas com doenças do neurônio de motor”, afirmou.
A técnica utilizou espectroscopia de infravermelho próximo combinada com eletroencefalografia para medir a oxigenação do sangue e a atividade elétrica no cérebro.
Outras interfaces cérebro-computador já ajudaram alguns pacientes paralisados a se comunicar, mas estas tendem a exigir os movimentos dos olhos para funcionar.
Mais estudos estão previstos para ver se a técnica poderia ajudar mais pessoas com paralisia resultante da ELA, ou aqueles que sofreram um acidente vascular cerebral ou lesão da medula espinhal.