07/11/2018 - 11:27
A Internacional Comunista, Komitern em russo, conseguiu abrir caminho durante a Primeira Guerra Mundial e foi fundada após a vitória da Revolução Russa, em meio à sede de justiça e igualdade social propagada nas trincheiras.
Desde o início da guerra, em 1914, Lenin pediu às organizações operárias europeias que criassem um novo movimento comunista mundial para substituir a Segunda Internacional Operária, dissolvida quando o conflito começou.
“O moral burguês e seus valores humanitários foram alterados com a Primeira Guerra Mundial para os soldados que passaram anos nas trincheiras e em meio ao sangue”, resume para a AFP o historiador russo Alexander Kolpakidi.
A Terceira Internacional foi criada em 1919 por iniciativa dos bolcheviques, que haviam chegado ao poder dois anos antes. Esta reagrupava os partidos comunistas de cerca de 20 países, com a União Soviética (URSS), evidentemente, na liderança.
“O Komitern é filho da Primeira Guerra Mundial”, destaca o historiador Alexander Vatlin, explicando que, uma vez de volta aos seus lares, os ex-combatentes e os prisioneiros de guerra se converteram em um terreno fértil para as ideias revolucionárias.
Os dirigentes do novo movimento comunista herdaram muito da sua experiência militar. O Komitern tinha os seus “comissários”, o seu “Estado-Maior” e impunha aos seus membros uma disciplina digna diante da guerra.
“Os operários e os camponeses aprenderam a usar as armas durante a guerra”, por isso o movimento revolucionário teve sucesso em Alemanha e Hungria, explica Alexander Vatlin, que vê nesses movimentos de insurreição de inspiração comunista, que não conseguiram se impor em longo prazo, “a continuação da Primeira Guerra Mundial” por outros meios.
– ‘Revolução mundial’ –
Após a chegada dos bolcheviques ao poder na Rússia, Lenin sonhava que a revolução se expandisse para outros países. Um dos lemas dessa época proclamava: “Da guerra mundial à revolução mundial”.
O Komitern estava a serviço dessa revolução mundial sonhada por Moscou.
Assim foram criadas muitas organizações internacionais: federações de sindicatos, uniões de juventude, mulheres ou atletas, e associações humanitárias, todas elas dependentes do Komitern e estritamente controladas por Moscou.
“A ideologia da Internacional Comunista era uma espécie de religião, com adeptos que acreditavam sinceramente na construção de um mundo novo, ideal, feliz, sem pobreza nem conflitos militares”, acrescenta Alexander Kolpakidi.
“O Komitern, que inicialmente foi criado como uma organização subversiva, substituiu, de fato, no período entre guerras, os aliados de Moscou (que perdeu com a revolução) e Stalin foi colocando progressivamente a serviço dos seus interesses”, assinala Kolpakidi.
– Espionagem –
Os agentes do Komitern, com formação em ações clandestinas, montaram redes de espionagem quase no mundo inteiro em benefício da URSS, muitas vezes dentro de estruturas controladas pelo Komitern. Outros fecharam no exterior tratados reais ou fictícios, condenados à morte por Stalin.
O Komitern também tinha o objetivo de lutar contra o sistema colonial europeu e ajudar os movimentos de independência e libertação nacional a fim de criar novos aliados para a União Soviética.
Um ano antes da sua dissolução, em 1943, o Komitern dispunha de células clandestinas em Europa, Estados Unidos, Turquia, China, Irã e nas Índias.
Dissolveu-se oficialmente para privilegiar a criação de frentes nacionais de resistência à ocupação alemã. Os dirigentes do Komitern desempenharam um importante papel nesses movimentos.
Após a Segunda Guerra Mundial, os novos dirigentes dos países do campo socialista também eram, em grande medida, ex-agentes do Komitern: Wilhelm Pieck e Walter Ulbricht na então República Democrática Alemã, Klement Gottwald na Checoslováquia, Wladyslaw Gomulka na Polônia, Josip Broz Tito na Iugoslávia e Gueorgui Dimitrov na Bulgária.
Uma vez garantida a formação de um bloco de países-satélite na Europa Oriental, a URSS começou a olhar para novos continentes e, seguindo a tradição do Komitern, financiou os movimentos revolucionários, ou de libertação nacional em África, Ásia e América Latina.
“Os investimentos da União Soviética no Komitern a ajudaram durante a Guerra Fria até a implosão do país, em 1991”, destaca Alexander Kolpakidi.