Os ianques estão chegando. Três pesos pesados do mercado financeiro americano estão de malas prontas para desembarcar no Brasil nos próximos meses. A Goldman Sachs vai transformar seu escritório de representação no País em um banco múltiplo. A Fidelity, gigante da gestão de fundos de investimentos, e a Charles Schwab, a maior corretora on-line do planeta, também estão de passaporte carimbado. As três vinham ameaçando o desembarque há algum tempo. Finalmente, lançaram as âncoras. ?Os bancos internacionais vão para onde estão indo as empresas. Não chegaram antes porque a crise havia posto muitos projetos na geladeira?, explica o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola.

GOLDMAN SACHS

O único dos grandes bancos de investimento americanos ainda sem filial no Brasil entregou ao Banco Central, na terça-feira 8, o pedido de abertura de um banco múltiplo. A direção do BC já foi consultada informalmente, e concordou. A Goldman terá uma carteira de investimentos e uma comercial, que servirá de apoio. Com ela, oferecerá crédito a empresas que precisem de financiamento para fechar negócios grandes. Na prática, será uma cópia em escala reduzida da matriz. A placa do banco, conhecida no País na área de captação de recursos, deverá se estender para fusões e aquisições, tesouraria e gestão de recursos.

É a terceira tentativa da Goldman Sachs de entrar no Brasil. Chegou muito perto, em 1998, de comprar o Garantia ? que era então o maior banco de investimento brasileiro, mas estava com o prestígio seriamente abalado pelo tombo sofrido na crise da Ásia. A memória fresca dos prejuízos do Garantia acabou melando o negócio. Clientes da Goldman fizeram saber que não gostariam de trabalhar com gente que corria riscos tão grandes. A entrada no mercado quase aconteceu, pouco depois, em parceria com o empresário Edson Vaz Musa, um especialista em empresas problemáticas. Ele e o banco seriam sócios na compra de créditos em liquidação de bancos comerciais, para depois tentar recuperá-los. O acordo não saiu por divergências na formação da sociedade. O banco, porém, é bem-sucedido nesse negócio no México e quer trazer a atividade para o Brasil.

FIDELITY

A maior empresa de administração de recursos dos Estados Unidos também está desembarcando por aqui. Em setembro será aberto o escritório da Fidelity Investimentos do Brasil. O objetivo é sentir a temperatura da água por aqui. No seu comando, o coreano naturalizado brasileiro Ung Kim terá como missão analisar o potencial do mercado e identificar oportunidades para distribuir produtos para clientes locais. ?Queremos estar familiarizados com as regras?, diz Fernando Sanchez-Alcazar, vice-presidente da Fidelity Investments Institutional Services Company na América Latina. ?Só assim poderemos identificar as necessidades e nos prepararmos para distribuir nossos fundos?.

Mas não espere encontrar lojinhas Fidelity pipocando pelas ruas. Quem chega aqui é a FIIS, o braço que vende produtos financeiros através de outras instituições. Criada em 1979, ela oferece mais de 4.200 fundos para bancos, seguradoras e corretoras, além de administradores de fundações de previdência. Essa é apenas uma das operações da empresa que administra mais de US$ 950 bilhões em ativos. A Fidelity irá oferecer fundos com portfólio global, porque acha que não faz sentido vender produtos semelhantes aos que já estão disponíveis no País.

A Fidelity não tem pressa. Suas operações na América Latina começaram em 1997. Hoje eles atuam no Chile e na Argentina. ?Temos de nos adaptar às diferentes situações. Respeitamos a cultura e a regulamentação de cada país?, diz Alcazar. ?Não temos dúvida de que o Brasil é o mercado mais importante do continente?, diz Alcazar. Ele observa que nossos fundos de pensão, por exemplo, têm o dobro do tamanho dos do Chile, que já têm uma história de 18 anos.

SCHWAB

A Charles Schwab, maior corretora on-line do mundo com US$ 931 bilhões em ativos e 7,2 milhões de clientes, decidiu entrar discretamente no Brasil. ?Vamos colocar um representante aí para desenvolver a marca, conhecer as necessidades do público, estudar o mercado e aí sim, desenvolver uma estratégia?, revelou à DINHEIRO o diretor-executivo para o Brasil, Luiz Souto-Maior. Schwab abriu na semana passada um escritório em São Paulo, a cargo de Fábio Kerr Alcântara, ex-Unibanco, ING e Citibank. A princípio, a Schwab brasileira ? primeiro escritório na América Latina ? terá uma estrutura enxuta se comparada às outras 365 filiais da corretora. Alcântara terá a missão de assessorar os clientes brasileiros ? boa parte dos 12 mil investidores latino-americanos da corretora.

Para fincar sua bandeira, seis funcionários da Schwab americana passaram os últimos dois anos preparando o desembarque. ?A América Latina é quase o nosso foco principal hoje, e o Brasil é o mercado que cresce mais rápido?, diz Souto. A empresa é cautelosa ao anunciar seus próximos lances. Como os clientes da Schwab precisam ter no mínimo US$ 10 mil em conta, a corretora pode bater de frente com os private bankings. ?Mas não queremos ser tão exclusivos?, diz Souto.