25/03/2019 - 7:59
Desde que a mineradora Vale deixou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 – a operadora da Bolsa de Valores de São Paulo – no mês passado, muitos investidores têm questionado como escolher ações sustentáveis e se as atuais ferramentas do mercado são, de fato, eficazes para validar esse selo.
Até então, colocar dinheiro em uma companhia integrante do ISE parecia uma garantia de algum retorno e segurança, mas os recentes episódios envolvendo a mineradora acenderam um alerta.
“O índice da B3 virou só uma referência. As empresas se vendem como uma coisa e, na verdade, sabemos que elas não são bem assim. A Vale é um exemplo”, analisa o coordenador do curso de sustentabilidade e responsabilidade social e empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Reinaldo Bugarelli.
A retirada da Vale do índice ocorreu após o rompimento da barragem na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que deixou pelo menos 209 mortos. As regras da carteira estabelecem a exclusão de ativos de empresas com desempenho em sustentabilidade ruim. A Vale já havia sido excluída após o desastre de Mariana (MG), em novembro de 2015, tendo de ficar três anos fora do ISE.
Na avaliação da consultora ambiental do Peixoto & Cury Advogados, Letícia Yumi Marques, o alerta para o mercado e para os investidores já havia sido dado. “A partir dali, quem coloca dinheiro nesses papéis já ficou mais interessado em se informar sobre riscos ambientais e como isso tem impacto no investidor”, diz.
Ela aconselha que, mais do que se basear em índices, o investidor deve buscar informação ao comprar ou vender ações. “É bom tentar interpretar relatórios ambientais, consultar o noticiário de onde essas empresas atuam, saber o histórico delas.”
Evolução
O ISE mede o retorno médio de uma carteira teórica de ações de companhias com as melhores práticas em sustentabilidade. Atualmente, 29 empresas compõem o índice, com um total de 34 ações. Entre elas, estão Natura e Eletrobrás. No ano, o indicador de sustentabilidade acumula valorização de 1,39%, ante 6,65% do Ibovespa, o principal indicador do desempenho médio das cotações das ações na Bolsa.
O coordenador do curso de especialização em Marketing da Universidade Metodista de São Paulo, Oswaldo Martins dos Santos, acredita que as empresas brasileiras ainda caminham rumo ao aprimoramento de práticas sustentáveis capazes de dar segurança ao investidor.
“A responsabilidade ambiental deixou de ser só estratégia organizacional para virar vantagem competitiva, que gera lucro a quem investe. Mas é preciso analisar se isso está sendo feito a sério ou apenas na teoria”, afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.