Nuvemshop, Play9, Tem Saúde, PicPay… O ano foi intenso para Camila Farani, uma das principais e mais influentes investidoras no setor de tecnologia do País. Apesar das turbulências econômicas, ela superou a marca de 45 startups investidas com capital próprio ou por meio dos fundos Gávea Angels, Mulheres Investidoras Anjo e G2 Capital. Como sócia, CEO ou conselheira, Camila tem participado de um ecossistema de empresas que, juntas, faturam mais de R$ 3,7 bilhões por ano. Até um avatar, a Mila, ela criou para o metaverso da comunidade empreendedora, o F/Land. O espaço virtual permite interações e atividades para que as pessoas possam empreender e até iniciar sua empresa do zero. A novidade foi apresentada no Rio Innovation Week, maior evento de tecnologia e inovação da América Latina, que reuniu 120 mil pessoas, em outubro. “É até difícil resumir como 2022 foi cheio de aprendizados, de investimentos e grandes parcerias”, disse Camila, eleita a Empreendedora de 2022 em Inclusão Social. “As dificuldades na economia brasileira e global abriram muitas oportunidades”, afirmou a executiva à DINHEIRO.

No comando da Bolipar, sua holding, Camila Farani cofundou a Staged Ventures, que junto com outros investidores aportou em 2022 na empresa Digibee mais de R$ 35 milhões. Sua ofensiva no mercado de startups fortalece também o empreendedorismo feminino, em um cenário árido para novos investimentos. “Foi um ano muito bom, mas não foi fácil. A conjuntura da economia e das empresas exige de todos nós muita cautela e criatividade na hora de empreender e investir”, afirmou.

Camila capitaneou um estudo que mostra o tamanho desse desafio feminino. A pesquisa inédita “Mulheres e o Ecossistema Empreendedor”, realizada pela Liga Ventures, maior rede de inovação da América Latina, em parceria com a o Ela Vence, de Camila Farani, concluiu que mais da metade das entrevistadas (59%) afirmou não ter tido acesso a investimento inicial e 32,5% disseram ter experienciado algum nível de dificuldade em obter capital para abrir seu negócio. A situação é ainda mais grave quando avaliada a percepção de facilidade na obtenção de dinheiro de acordo com a raça e a cor de pele, 11% das respondentes brancas consideraram fácil ou muito fácil. Já entre as empreendedoras negras, este percentual foi de apenas 4%. “Uma das minhas missões é apoiar mulheres a transformar suas ideias em empresas rentáveis e bem geridas”, disse Camila. “Precisamos criar ambientes seguros, que ofereçam uma boa base para as mulheres se desenvolverem, sem medos e sem preconceitos. Também é fundamental estabelecer uma liderança corporativa sensível e propositiva.”

Não só para as mulheres, o mundo das startups tem, de fato, vivido dias complexos. Camila relembra que 2021 foi de recorde de investimento de risco. No mundo, as startups captaram US$ 621 bilhões, segundo CB Insights. No Brasil, foram US$ 9,4 bilhões. Em 2022, no entanto, o cenário político e macroeconômico mudou, com uma guerra internacional, alta de juros e da inflação. As ações das empresas de tecnologia listadas na bolsa tiveram forte queda, o que afetou o mundo do financiamento de risco. “Alguns ativos ficaram mais atraentes e baratos porque tivemos uma diminuição da liquidez, redução dos IPOs, grandes fundos tirando o pé do acelerador”, afirmou.

Prova de que as startups estão atravessando momentos de mutação, segundo Camila, foi o fenômeno recente das demissões nas bigtechs. “Com as pessoas e os negócios indo para o digital, essas empresas precisaram investir e contratar pessoas o que, em 2022, com um cenário mais desafiador, pesou. E isso se refletiu também nas startups.”

Para 2023, Camila se diz mais do que otimista. O empenho de governos e bancos centrais na estabilização da economia, a maior maturidade das startups e a sintonia entre as companhias físicas e digitais criam um ambiente de crescimento sustentável. “Vai ser um ano de crescimento moderado e com mais cautela nos investimentos. Vejo com bons olhos esse ambiente para empresas, investidores e empreendedores.”