Desde que queimaram seus sutiãs em praça pública, no final da década de 1960, as mulheres reivindicam direitos iguais aos dos homens na vida em sociedade. Agora elas dão mais um passo. Querem exercer essa paridade num espaço tradicionalmente masculino ? o mercado financeiro. A campanha é forte e prova disso são as obras sobre finanças voltadas para o público feminino que estão invadindo as livrarias. Lançado no início do mês no Brasil, Mulher Rica, de Kim Kiyosaki, esposa de Robert Kiyosaki, autor do best seller Pai Rico, Pai Pobre (Ed. Campus/Elsevier, R$ 49, 200 págs.), é mais um exemplo dessa leva. Nele, a autora conta como transformou-se de uma jovem que não sabia coisa alguma sobre dinheiro para uma mulher independente financeiramente e autoridade no assunto. Uma pergunta, porém, parece inevitável: existe diferença entre ensinar mulheres e homens a investir?

A resposta é não. Os fundamentos necessários para comprar um imóvel ou negociar ações em bolsa independem do sexo. As regras mudam de acordo com o tipo de aplicação. Mas por que, então, um livro de finanças dedicado às mulheres? ?A diferença está nos motivos que deveriam levar as mulheres a atentarem mais para a importância de investir?, conta Kim à DINHEIRO. No livro As Leis do Dinheiro para Mulheres, a autora Eliana Bussinger revela estatísticas preocupantes:

? Cerca de 40% das mulheres brasileiras são sozinhas.
? 50% dos casamentos acabam em divórcio. E quem fica com os filhos, na maioria dos casos, são as mulheres.
? No primeiro ano após o divórcio, o padrão de vida da mulher cai, em média, 73%.
? Mulheres vivem oito anos a mais que homens, em média. Das brasileiras acima de 60 anos, 40% são viúvas.
? 75% dos idosos considerados pobres são mulheres.

O objetivo desses livros não consiste, portanto, em ensinar os meandros do mercado financeiro, mas sim incentivar as mulheres a cuidarem das próprias finanças. ?As pessoas acreditam que o primeiro passo para investir é saber como fazer, quando, na verdade, é descobrir por que você precisa investir?, explica Kim. ?O que as estatísticas mostram é que muitas de nós, mulheres, não fomos educadas para tomar conta de nossas vidas financeiras.? A autora aponta alguns comportamentos tipicamente femininos que traduzem esse despreparo: aceitar o mito de que os homens são melhores para lidar com assuntos financeiros, não se achar suficientemente esperta para isso ou casar por dinheiro, entre outros.

Se por um lado as mulheres não foram educadas para administrar o próprio dinheiro, por outro lado essa mesma deficiência pode acabar se mostrando um facilitador do processo de aprendizagem quando elas se dispõem a assumir as rédeas. ?Uma das grandes vantagens é que nós não fingimos saber, por isso estamos inclinadas a perguntar e, portanto, a aprender mais?, diz Kim. E nunca é tarde para isso. A psicóloga Helena Maria de Campos Magozo, 55 anos, despertou para a necessidade de investir e há três anos aplica suas economias em títulos públicos e ações. ?Estou me programando para garantir um futuro tranqüilo?, diz Helena. Assim como ela, a lista de mulheres que aderiram ao mercado financeiro só faz crescer. Na Bovespa, por exemplo, o número de investidoras saltou de 85,24 mil em 2002 para quase 218 mil neste ano ? 21,95% do total de pessoas físicas. Pelo visto, é apenas o começo.