01/06/2022 - 9:09
Os moradores de um prédio em Saltivka, na periferia de Kharkiv, na Ucrânia, esperam as conclusões dos investigadores que vieram fiscalizar seu edifício, destruído pela guerra, para saber se condiz ou não com “crime de guerra”.
Muitos esperam em vão por respostas sobre indenizações. Ainda não é hora, mas os investigadores tomam nota de tudo e percorrem cada andar do prédio com seus ocupantes.
O apartamento de Mykola Tymchenko, de 70 anos, está em ruínas. A explosão e o incêndio que se seguiram a um ataque russo devastaram a residência.
Móveis, colchões, tudo foi reduzido a cinzas. “Aqui era a cozinha, aqui o banheiro…”, explica.
“O que você quer que eu sinta? Perdi minha esposa antes do Ano Novo. Agora perdi meu apartamento. Levei anos para pagar, e em um instante se foi”, lamenta.
– “Já não podemos viver aqui” –
Em uma escada vizinha, o dano é aparentemente menor.
Oleksandr Ryabokone, de 30 anos, foi arremessado com a explosão e ainda há fragmentos de vidro e parede espalhados por toda parte.
Mas ele recolheu seus pertences em sacolas brancas que planeja levar para um lugar seguro para escapar de “ladrões e saqueadores”.
Também protegeu uma pintura de sua bisavó, embrulhando-a em celofane.
“O prédio está em estado crítico. Não podemos mais viver aqui. Não sabemos se vão destruí-lo” porque não pode ser restaurado, disse o pai de família.
“Não sei o que eles podem me reembolsar pelos danos”, diz, esperando que as autoridades lhe concedam uma nova casa.
No topo do edifício, os magistrados continuam o seu trabalho, inspecionando os restos de um morteiro perto de um buraco na parede.
“Um especialista determinará que tipo de projétil é”, explica Oleksandr Glebov, 33, um dos fiscais da Promotoria de Kharkiv.
“Ainda não está claro se os civis foram alvos ou se foi uma falha de disparo”, diz com cautela, embora centenas de bombas tenham caído no distrito desde o início da invasão russa.
No final de fevereiro, os russos chegaram aos portões de Kharkiv, em Saltivka, mas foram repelidos pelo exército ucraniano. Muitos edifícios foram atacados.
Agora as forças de Moscou se concentram em outras frentes, mas o fogo de artilharia entre os dois exércitos continua e as granadas continuam caindo regularmente neste bairro, que antes da guerra tinha mais de 500.000 habitantes.
Muitos dos habitantes fugiram da área. Durante a visita, os fiscais seguem um procedimento: “Perguntamos a cada vítima [material] a mesma pergunta: ‘Havia alvos militares perto de sua casa?'”, explica Glebov.
Seu colega Oleksandr Arseni é mais categórico: “São crimes de guerra. Todas as pessoas que viviam aqui são vítimas”.