17/07/2002 - 7:00
Uma nova moda acaba de ser lançada no mercado financeiro. Executivos que deixaram ? ou perderam ? empregos em bancos abrem instituições financeiras, sem agência nem talão de cheques, para atender a uma clientela limitada e de alta classe. São as chamadas butiques de investimentos. Localizadas em pequenos escritórios de luxo e com poucos funcionários, as empresas não têm a estrutura nem o poder dos grandes bancos. Mas acham que podem atrair a freguesia ao apelar para o prestígio pessoal de seus criadores. ?Queremos que nossa administradora seja uma grife de luxo para os investidores?, diz Mário Lima, sócio da Eagle Capital.
A Eagle é um escritório de gestão de recursos, principalmente ações, mas também apartamentos, quadros, carros ou outros bens de pessoas ricas. Foi criada no início do ano, quando Lima se aposentou do ABN-Amro e se juntou ao seu parceiro de golfe e executivo financeiro, Paulo Possas. Os dois deram o nome de uma jogada de golfe ? Eagle ? à administradora, atraíram um grupo de pouco mais de 20 clientes e cuidam de um patrimônio de R$ 30 milhões. ?Não queremos ter muitos clientes?, diz Possas.
Essa é a regra de ouro das butiques financeiras: poucos clientes para muito dinheiro. O alvo são pessoas com algum conhecimento
de mercado. ?Numa butique de investimentos, a aplicação não é
uma caixa preta?, diz Rodrigo Bresser Pereira, da recém-criada Argos. Os clientes acompanham onde é investido o dinheiro. Mas, para isso, a freguesia é restrita. Para começar a aplicar na Argos é preciso mais ou menos R$ 250 mil. Em média, eles aplicam cerca de R$ 5 milhões. São pessoas com conhecimento o suficiente para apostar em produtos sofisticados, como um fundo que investe em ações e derivativos para oferecer rendimento superior ao de aplicações em renda fixa. É tipo de produto que não é visto na vitrine de um banco de varejo.
?Não quero competir com os grandes bancos, quero oferecer uma análise diferenciada?, diz Bresser Pereira, ex-sócio do banco Matrix, que fechou as portas este ano. Assim como Bresser Pereira, outros antigos sócios do banco também montaram seus próprios fundos de investimento ou se juntaram a outros escritórios de luxo. Bento Barros, por exemplo, abriu o Scopus. Helder Soares e Carlos Ambrósio se uniram ao Claritas. No Rio de Janeiro, antigas estrelas do banco Pactual, Paulo Guedes e André Jakurski, abriram a exclusivíssima boutique JGP. Em São Paulo, nomes que fizeram a história do banco Garantia, como Eric Hime e Fernando Prado, querem criar mais um escritório de primeira linha.
Todos esses nomes têm algumas características em comum. Em geral, eles são executivos com muita experiência e que resolvem deixar de ser empregados para virar patrões. ?É uma geração que ganhou muito dinheiro e quer uma vida melhor, com menos pressão?, diz Alfredo Assumpção, presidente da Fesa, empresa de recrutamento de executivos financeiros. Há outra razão para o aparecimento de tantas butiques de investimento. Nos últimos anos, muitos bancos se uniram ou foram comprados. O resultado é que profissionais bem preparados, com PhD no exterior, e conhecimento de todos os truques de mercado ficaram sem emprego. ?A cada fusão, sobra um diretor de tesouraria na praça. Não há mercado que comporte tanta gente?, diz Assumpção.