Profissão: influenciador. Eles estão por toda parte: Instagram, X (ex-Twitter), YouTube e TikTok. E cada um no seu segmento — moda, esportes, gastronomia e até no mercado financeiro. A 6ª edição do relatório FInfluence, realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad), foi divulgado no último dia 6 e mostrou que existem 534 influenciadores de finanças, que usam as mais diferentes redes sociais para levar informação aos seus 208 milhões de seguidores. Muita gente séria. Mas alguns aventureiros também. Com tanta informação disponível, como separar o joio do trigo na hora de escolher quem seguir?

Para ajudar a elucidar essa questão, há uma mobilização dos órgãos reguladores do mercado de capitais, que buscam mais assertividade e qualidade para os três elos dessa cadeia:
contratante,
influenciador,
e seguidor.

Sinalizar que um conteúdo é publicidade, ou seja, que o influenciador está recebendo algum valor para fazer aquela postagem, já era uma determinação do Conar, como parte do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Mas, diante do crescimento acelerado do número de pessoas interessadas em colocar a vida financeira em ordem — esse público cresceu 181% em três anos —, fez-se necessário a implementação de diretrizes específicas. “Com expansão das redes sociais e aumento do interesse por investidores, há situações em que a atuação dos influenciadores digitais pode promover disfunções no funcionamento do mercado”, disse a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), em nota à DINHEIRO.

O primeiro passo nesse sentido foi dado em abril de 2022, quando a CVM lançou um estudo sobre influenciadores digitais e o mercado de capitais para desenvolver possíveis normas para a relação comercial entre os dois agentes.

Atualmente, a autarquia analisa os comentários de uma consulta pública, ocorrida entre novembro de 2023 e março de 2024, que, ao final, será debatida com o mercado para uma possível proposta de alteração normativa. A Anbima também foi responsável por um passo importante.

Desde novembro do último ano, a entidade exige que influenciadores informem explicitamente uma publicação patrocinada ou parceria com instituições. Além disso, há orientações da BSM Supervisão de Mercados, principal autorreguladora do mercado nacional que integra o grupo da B3, sobre o relacionamento de gestoras e corretoras com influenciadores de investimentos.

Entidades alertam para a necessidade de questionamento do público para distinguir investimentos de jogos de azar

Se havia um medo dos influenciadores do ramo não receberem as novas regras positivamente, Nathalia Arcuri, produtora de conteúdo de educação financeira, com mais de 10 milhões de seguidores nas mídias sociais, e CEO do Me Poupe!, afirmou que as medidas são fundamentais para evitar um crescimento fora de controle.

“O acesso às informações financeiras foi facilitado com o avanço das redes sociais e a ascensão dos influenciadores, mas isso também resulta na criação de perfis irresponsáveis, que se valem da vulnerabilidade do público”, afirmou ela, que atua na área desde 2014. Ela é criadora de um dos primeiros canais de educação financeira com teor descomplicado no YouTube.

BEM LONGE DE INVESTIMENTO

Não dá para negar que a popularização de jogos de azar ampliou a atenção para o tema. Um exemplo disso é o “Fortune Tiger”, mais conhecido como o “Jogo do Tigrinho”, que promete altos rendimentos em prazos curtos. Uma prática ilegal que foi altamente divulgada por influenciadores digitais.

Segundo Amanda Brum, gerente executiva de comunicação, marketing e relacionamento com associados da Anbima, o questionamento do público é fundamental em casos dessa natureza. “É importante que o consumidor saiba do seu papel, questione o influenciador e os tipos de conteúdos”, afirmou. Para Arcuri, os produtos oferecidos passam bem longe de aplicações e os reguladores devem se atentar mais a essas mensagens.

Vale destacar que os jogos de azar são diferentes de apostas esportivas on-line, que se enquadram no mesmo segmento de loterias.

(CBELLI)

“O avanço das redes sociais e a ascensão dos influenciadores contribuiu para a democratização das infornações sobre finanças.”
Nathalia Arcuri, influenciadora digital e CEO do Me Poupe!

MAPA DO SETOR

O modesto salto na quantidade de influenciadores entre o primeiro e segundo semestre de 2023, apenas 3,7%, pode indicar que o ecossistema atingiu seu platô.

Entre os quase 1,3 mil perfis espalhados pelo YouTube, Facebook, Instagram e X, destacam-se os produtores de conteúdo, investidores independentes, assessoria/corretora, analistas e traders.

• Juntos, representam 68% dos influenciadores ativos, 72,5% da audiência e 45,8% das publicações mapeadas pela Anbima.

Independentemente da categoria, os influenciadores são atentos aos noticiários e, em geral, fazem conteúdos sobre a taxa Selic, Reforma Tributária, criptomoedas e economia internacional. O interesse do público por esses temas, inclusive, impulsionou também o crescimento de perfis corporativos, como a imprensa especializada, casas de análise e portais de educação.

Com tudo isso em jogo, as novas diretrizes do mercado evidenciam que, quando se trata de finanças e investimentos, nem tudo que reluz é ouro.