O bitcoin surpreendeu os investidores nos primeiros dois meses de 2023. O criptoativo subiu 41% após ir de US$ 16,6 mil para US$ 23,4 mil. Não foi só ele que se deu bem. O ethereum, a segunda criptomoeda mais famosa, subiu 36% no mesmo período. Porém, quem olhar somente o desempenho de 2023 do bitcoin e do ethereum pode se enganar. Aportar em criptomoedas é a mesma coisa que colocar o seu dinheiro em uma montanha-russa. Ora acelera e sobe, ora cai com uma força imensa. Prova disso foi a queda de 64,3% do bitcoin e de 67,5% do ethereum em 2022. Para Guilherme Bento, especialista da Acqua Vero, as baixas do ano anterior estão diretamente ligadas ao aumento das taxas de juros dos EUA pelo Federal Reserve (Fed). O Fed Funds saiu de 0% a 0,25% e foi para 4,5% e 4,75% ao ano. “Quanto maior o juro do Fed, menor é o valor do bitcoin e do ethereum”, afirmou Bento.

Mesmo assim, alguns analistas veem o bitcoin e o ethereum como boas oportunidades de investimentos. Para Raquel Vieira, especialista em criptomoedas da Top Gain, um motivo para isso é o fato de o mercado cripto ter se antecipado em relação ao aperto monetário americano. “No final de 2021 e início de 2022, o mundo cripto precificou a alta de juros antes mesmo de começar.” Vinicius Bazan, analista de criptoativos da Empiricus, concorda e diz que esse movimento, de se adiantar ao mercado, acontece agora novamente. “A expectativa é de que a inflação começou a ser controlada e aos poucos deve chegar na meta, o que pode significar um alívio no aperto monetário, dando espaço para ativos como bitcoin e ethereum.”

REALIDADE São expectativas que estão na mão do Fed. No fim de janeiro, na última reunião do Fomc — comitê que decide pelo juro americano, como o brasileiro Copom — o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou clara sua estratégia. Ao ser questionado se o Fed colocaria o fim do aperto monetário a partir da reunião de 3 de maio de 2023, visto que o mercado precificou apenas mais uma alta dos juros (de 0,25%) para o encontro de 22 de março, Powell negou a possibilidade. “Vamos esperar dados mais concretos de que a inflação está controlada”, disse. “Enquanto isso não acontecer, vamos continuar subindo juros. Temos uma visão diferente da do mercado.”

É justamente para esse risco que o investidor deve se atentar. De acordo com Guilherme Bento, da Acqua Vero, o risco é alto. “O mercado pode estar precificando uma coisa e o Fed estar falando outra”, disse. “Isso pode impactar negativamente o mundo cripto, causando nova fuga de capital.” Ele comenta que deve acontecer um ajuste de 0,25% nas reuniões de março e maio de 2023. “Após esses dois aumentos, é possível dizer que o fim do ciclo de alta pode estar próximo.”

O investidor deve avaliar esse risco para estimar se vale a pena entrar no mercado de criptomoedas. E aí conta o perfil de cada um. Vinicius Bazan, da Empiricus, diz que se o perfil for conservador, o ideal é não ter exposição a esse mercado por causa da volatilidade. “O bitcoin subiu 41% em dois meses, mas nada impede de cair 30% em março. O curto prazo é instável.” Por isso, segundo ele, o perfil conservador deve ter no máximo 1% de seu patrimônio em criptos. Já o arrojado deve ter apenas 5%.

Se o investidor acreditar que as expectativas do mercado para 2023 possam se confirmar, o lucro com o bitcoin pode chegar a quase 30%, já que a projeção de analistas é que o ativo termine 2023 no patamar de US$ 30 mil. O ethereum pode chegar aos US$ 2,5 mil, potencial de alta de 51%. As chances de lucros existem. Desde que o investidor saiba suportar a forte volatilidade dessa montanha-russa.