Pesquisa realizada pelo think tank GRI Institute (Global Real Estate and Infrastructure) com 295 investidores dos setores imobiliário e de infraestrutura apontam um aquecimento no setor de data centers: 76% definiram como alto ou muito alto o apetite para investir no segmento nos próximos 12 meses. Ao mesmo tempo, 47,73% enxergam potencial em mercados já consolidados, como São Paulo e Rio de Janeiro.

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“São regiões que já possuem uma infraestrutura mais adequada de acesso à energia, à água e até logísticos”, explica o diretor de infraestrutura do GRI Institute, Moisés Cona. “Algumas cidades, em particular no eixo que o São Paulo, também já possuem incentivos fiscais para a instalação desses data centers na região.”

Os dados apontam que apenas 15,91% afirmaram desejar investir em novos polos. Em seguida, aparece o grupo focado em e zonas especiais planejadas e com incentivos (13,64%), regiões com abundância de energia renovável (13,63%) e, por fim, regiões de fronteira e próximas a cabos submarinos (9,09%).

Governo quer incentivar data centers em outras regiões

Enquanto quase metade dos investidores mantém foco no Sul e Sudeste, o governo federal tem feito esforços para levar data centers para o Centro-oeste, Norte e Nordeste.

Em 2024, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ofereceu uma linha de crédito especial para essas regiões. Já em setembro, a Medida Provisória que cria o Redata (Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter no Brasil) estabeleceu contrapartidas menores para quem investir nessas regiões.

Na visão de Cona, há, no entanto, vantagens ainda difíceis de contornar nas regiões já consolidadas, como uma infraestrutura já instalada e consolidada, além dos incentivos fiscais locais. “Todos esses fatores precisam estar na balança: o custo do terreno, da energia, do resfriamento, os incentivos fiscais e tributários”, afirma.

A IstoÉ Dinheiro entrou em contato com o Ministério das Comunicações, responsável pelas políticas para o setor de data centers, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.

Vai dar certo?

Na visão do professor da Unicamp (Universidade de Campinas) Alcides Peron, o fato de os dados apontarem olhares para novos polos e zonas de energia renovável demonstram que as propostas do governo irão conseguir levar os negócios para fora do eixo Sul-Sudeste.

“A gente precisa de muito espaço com energia renovável e dinâmicas de refrigeração. Isso no estado de São Paulo não é tão barato. No estado do Rio de Janeiro, muito menos”, analisa Peron. “De maneira geral, isso tá disposto nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste.”

No momento, o governo federal prepara uma política mais ampla de incentivos a data centers que, na visão do professor, deverá trazer preocupações para além dos incentivos à instalação. O motivo seria os impactos ambientais (com ampliação do uso de recursos hídricos e de energia não-renovável para suprir possíveis déficits da atual matriz) e os poucos empregos gerados. “Não há pesquisa e desenvolvimento junto com o data center”, diz.

“Eu acredito muito em contrapartida que a gente está na posição também de pensar em contrapartidas”, diz, citando como exemplos treinamento de mão de obra e instalação de elos mais complexos da cadeia produtiva da IA.