Investir o seu dinheiro, para muitos, é uma questão ética. O mercado financeiro sempre teve a fama de ser parasitário das riquezas do país, e são acusados de focar no rentismo e não na produção. Acontece que algumas iniciativas que visam democratizar o acesso a esses recursos estão querendo mudar esse cenário, tentando criar um mercado de finanças sociais.

É isso que o ex-banqueiro Eduardo Moreira vem fazendo desde 2020. Ele criou um fundo de investimento chamado de Financiamento Popular (Finapop) que captou mais de R$ 1,5 milhão para conseguir concluir a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Rio Grande do Sul.  

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“Curiosamente, algumas críticas vieram de uma turminha do mercado, que defende o liberalismo. Mas o liberalismo não diz que o mercado vai permitir que todos acessem? Aí o MST segue essas regras e também criticam. Então, isso mostra que querem o mercado só para eles”, disse Moreira ao UOL. 

Em 2021 o Finapop deu um salto ainda maior: conseguiu captar R$ 17,5 milhões para apoiar iniciativas de agricultura popular dos Sem Terra.  

O sucesso das captações tende a aumentar ainda mais essas iniciativas. O CEO do Grupo Gaia, João Pacífico, que ajudou Moreira nessa atração de investidores, já tem ideias de apoiar outros projetos sociais. 

Em breve ele deve começar a construir um prédio no centro de São Paulo que terá gestão social e contará com o aluguel de até R $1mil por mês. Um segundo prédio também está nos planos e ambos serão construídos com dinheiro de investidores do ramo imobiliário. 

Pacífico também quer lançar uma iniciativa para construir uma franquia de cursos de inglês nas periferias onde pessoas de baixa renda possam ser os franqueados. Projetos com populações indígenas e quilombolas também estão nos planos.  

Uma outra iniciativa que atinge o público mais progressista é o Left Bank. Criado ano passado, a instituição aproveitou a mudança legislativa que permitiu que empresas de tecnologia pudessem atuar na área financeira, as chamadas fintechs. 

Seu diferencial é apoiar iniciativas populares em diversos ramos, da agricultura familiar à energia. O banco vai repassar 20% de seu lucro a iniciativas ligadas a movimentos sociais, indígenas, quilombolas e ONGS. Em pesquisa feita pela empresa, cerca de 30% das pessoas se declararam como esquerda ou centro-esquerda, isso significa nada menos do que 65 milhões de brasileiros. A empresa que foi fundada no último mês de dezembro e tem pouco mais de 3 mil clientes. 

O diretor de relações institucionais do banco é o ex-deputado petista Marco Maia. Ele lembrou que desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder empresários negacionistas e conservadores ganharam destaque e que é preciso ocupar esse espaço com ideias progressistas.

“Precisamos ter uma lista positiva de empresas e produtos que defendem o meio ambiente, a ciência, os direitos humanos, que sejam contra a reforma trabalhista”, disse ao UOL. Maia diz que o banco não faz análise ideológica dos clientes até, mas que a transparência enquanto as práticas que realiza deixa claro os valores da instituição. “Quem entrar sabe os nossos propósitos”, garante.