Depois da irresponsabilidade da dívida de R$ 43 bilhões envolvendo a Americanas, o mercado viverá sustos pontuais. Desta vez, o fantasma assombrou a Light, que passou por forte curto-circuito e deixou o setor elétrico em choque. A empresa contratou a Laplace Finanças para fazer melhorias em sua estrutura de capital, o que gerou ruídos de que a companhia estava trabalhando em uma reestruturação financeira de R$ 3,3 bilhões – coincidentemente ou não, Carlos Sicupira, do 3G, é um dos acionistas da empresa. Isso foi o suficiente para pressionar os ativos, que caíram 14,19% em único dia por temor do mercado de uma possível recuperação judicial.

Para o analista de equity research da Guide Investimentos Gabriel Gracia, um dos motivos para a dificuldade da empresa é contratual. “O acordo da Light com o Rio de Janeiro obriga a empresa a aceitar uma quantidade de perdas, e limita os cortes de luz de inadimplentes”. A companhia negou a possibilidade de recuperação judicial. De toda forma, o caso deixa um alerta: o setor elétrico não é 100% seguro. Na visão de analistas, esse segmento é visto como uma fortaleza, pois as companhias trabalham com um bem resiliente às crises econômicas. Afinal, todos precisamos de energia.

No entanto, as coisas não são tão simples e uniformes. Para Nelly Colnaghi, analista da Levante Investimentos, cada subdivisão do setor elétrico (geração, distribuição e transmissão) possui sua pedra no sapato. “As empresas de distribuição enfrentam inadimplência. As de geração têm as condições hidrológicas como principal preocupação. E as de transmissão, trabalham com o risco de alta das taxas de juros”, afirmou. Ainda assim, Nelly enxerga que a Light é um caso isolado. “A companhia possui apenas a concessão do Rio de Janeiro, uma concentração de risco setorial e regional, o que não se repete em outras empresas.”

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“O principal é o investidor se apegar aos fundamentos de cada empresa para não ter uma análise rasa e superficial” Heitor De Nicola especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero.

CAMINHOS O investidor não deve pensar que todas as companhias elétricas estão na mesma situação que a Light. Uma das métricas de avaliação recomendada por especialistas é observar o endividamento. De acordo com os balanços do terceiro trimestre, duas companhias estão mais endividadas na relação dívida líquida sobre Ebitda do que a Light (3 vezes): Taesa (3,7 vezes) e a Equatorial (3,4 vezes). Tão importante quanto o indicador é conhecer o perfil da dívida. Em suma, uma alavancagem maior pode ser má ou boa notícia, desde que se saiba se é de curto ou longo prazo.

Entre as citadas, a Equatorial é a melhor vista pelo mercado. Para Heitor de Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero, o ativo tem fundamentos. “A Equatorial apresentou bons lucros e ótima geração de caixa”, disse. “Com isso, o investidor tende a ganhar com a valorização do ativo, além dos dividendos.” O lucro da Equatorial no terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 2,3 bilhões. No mesmo período, a Light teve prejuízo de R$ 106 milhões.

Já Taesa é deixada de lado, pois além de ter um endividamento elevado, possui outras concorrentes mais atrativas, como a Eletrobras. A antiga estatal está com o endividamento em 1,8 vez, e segundo Nicola deve diminuir e chegar a 0,6 em 2025. Parte dessa redução viria com o corte de custos. “A companhia deve enxugar o quadro de funcionários, principalmente em relação ao alto escalão, que está muito inchado”.

Nesse time, outras duas empresas que aperecem são CPLF e EDP. A primeira está com uma dívida líquida sobre Ebitda de 1,9 vez, enquanto a segunda apresenta um indicador em 2,2 vezes. Para o analista de equity research da Guide Investimentos Gabriel Gracia, as duas companhias são mais consolidadas e possuem boa geração de caixa.

Outro indicador relevante é o preço-alvo. De acordo com os analistas, a Eletrobras pode chegar a R$ 64, avanço de 78,52% na comparação com o fechamento de quarta-feira (15). Enquanto isso, Equatorial pode avançar 12,78% caso atinja o preço-alvo de R$ 33. Já CPFL e EDP têm preços-alvos, respectivamente, de R$ 37,50 e R$ 25, potenciais de 22,3% e 25,75%. Por outro lado, a Taesa tem preço-alvo de R$ 35,90, sem muito espaço para valorização, visto o preço atual de R$ 35,88. Em termos de dividend yield (DY) para 2023, o projetado para Eletrobras é de 8%, Equatorial 4%, CPFL 11%, EDP 6%. Já Taesa, tem DY projetado em 8,5%, mas com os analistas indicando ficar longe da empresa. No geral, o melhor é o investidor tomar cuidado na seleção dos ativos e evitar curto-circuito na carteira.