As companhias do setor de varejo alimentício entregaram resultados não tão agradáveis no quarto trimestre de 2022 em meio a uma tempestade macroeconômica. O Assaí viu seu lucro cair 23%, para R$ 406 milhões, enquanto o Carrefour teve queda de 28,2% no resultado, para R$ 550 milhões. O pior ficou com o Pão de Açúcar, empresa que registrou prejuízo de R$ 1,1 bilhão depois de um lucro de R$ 777 milhões no quarto trimestre de 2021.

Para a analista da XP Investimentos Daniella Eiger, os lucros de Assaí e Carrefour foram impactados pelo crescimento das respectivas dívidas em meio ao aumento das taxas de juros. “O Assaí comprou 71 lojas do Extra por R$ 5,2 bilhões. Já o Carrefour vem passando por dificuldades para incorporar o BIG”, disse. “Com o crescimento da dívida em meio aos juros em um patamar elevado, o resultado final dessas duas empresas ficou comprometido.” Por isso, a analista acredita que a melhor forma de analisar essas empresas é ver o comportamento do Ebitda. O Ebitda ajustado do Assaí cresceu 28,6%, para R$ 1,17 bilhão. Já o Ebitda do Carrefour registrou melhora de 12,4%, para R$ 1,97 bilhão. “Se o investidor for por esse ângulo, vai perceber que essas duas companhias tiveram crescimento acima da inflação”, afirmou Daniella.

Por outro lado, o Pão de Açúcar foi a grande decepção do mercado. Para os analistas do BTG Pactual, o resultado foi fraco após a empresa ser pressionada negativamente por itens não recorrentes. “Foram perdas de R$ 285 milhões em contingências, R$ 309 milhões em provisões trabalhistas, R$ 161 milhões da reforma tributária colombiana e R$ 288 milhões com um parecer desfavorável do Supremo Tribunal Federal [STF]”, disseram Luiz Guanais e sua equipe, em relatório ao mercado. Segundo os analistas, o investidor deve ter em mente que a inflação é uma das maiores ameaças do segmento. Por isso, o BTG deixa claro que o Pão de Açúcar é a empresa do setor que oferece os maiores riscos. “O fato de a companhia ter 46% de suas vendas focadas na alta renda deve continuar pressionando a empresa por causa da alta da inflação”, afirmaram Guanais e sua equipe.

Para quem tem apetite ao risco, porém, o papel pode ser tentador. A equipe do BTG calcula um preço-alvo de R$ 39 por ação, alta de 168% na comparação com o fechamento de segunda-feira (6). A XP não compartilha da mesma visão e acredita que o prejuízo bilionário da empresa é uma excelente dica para o investidor.

ATACAREJOS Já com o Carrefour o tom é mais neutro. Para Daniella Eiger, da XP, mesmo que a empresa tenha apresentado crescimento no Ebitda, a inflação deve continuar pressionando a empresa, principalmente nas lojas que funcionam como hipermercados. “Esse modelo perde clientes para o atacarejo do Assaí, que oferece produtos mais baratos para os clientes”, disse. O preço-alvo da XP é de R$ 20 e o do BTG é de R$ 21, altas potenciais de 54,2% e 62%, respectivamente.

Por fim, com o Assaí, o otimismo é grande. Segundo Daniella Eiger, da XP, a ação do varejista é a melhor do setor para se proteger dessa forte tempestade que aparece no radar das empresas. “Preferimos o formato de atacarejo por causa das questões macroeconômicas e o Assaí é o único que está exposto 100% a esse formato, sendo um ativo resistente às crises macroeconômicas”, disse Daniella. O BTG tem preço-alvo de R$ 25 e a XP de R$ 27 por ação, altas potenciais de 41,6% e 53%, respectivamente.