24/10/2024 - 11:52
Com uma leitura vindo pior do que o esperado pelo mercado nesta quinta-feira, 24, o IPCA-15 reforça a tese de uma postura mais austera por parte do Banco Central (BC), com uma alta de 0,50 ponto percentual (p.p.) na Taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
+IPCA-15: Prévia da inflação acelera em outubro e atinge 4,47% em 12 meses
O IPCA-15 de outubro veio em 0,54%, acima das projeções do consenso de mercado, de 0,50% – e além disso trouxe em sua composição detalhes que também deixaram especialistas mais pessimistas.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank , comenta que, sem alívio na inflação de serviços, o ciclo de alta da Selic deve ser mantido.
“O resultado de outubro é reflexo, principalmente, do aumento dos preços da energia elétrica (5,06%) e da alimentação no domicílio (0,83%). No caso da energia elétrica, a pressão inflacionária veio da entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha 2 em outubro”, explica.
“Já a alimentação no domicílio, que vinha de três meses de deflação, voltou a subir puxada por componentes sazonais potencializados pela seca que compromete o pasto e a alimentação do gado. Entre os itens que mais aumentaram de preço estão as carnes (5,1%) e óleos e gorduras (3,1%)”, completa.
Nesse contexto, a especialista do C6 comenta que os dados reforçam a visão de que Copom “precisará seguir com o ciclo de alta da Selic nas próximas decisões”. A expectativa é de elevações de 0,50 p.p. em novembro e dezembro.
As expectativas da casa são de uma Selic em 11,75% ao final de 2024 e de 10% ao final de 2025. Já para o IPCA, a projeção é de que o índice feche o ano de 2024 em 4,7%, acima do teto da meta de inflação.
Gustavo Gonzaga, da Necton Investimentos, comenta que a casa tinha uma projeção mais pessimista do que o consenso, então os dados vieram em linha com o esperado.
“Um dos núcleos mais relevantes para a pol. monetária, o de serviços subjacentes, acelerou fortemente na margem (0,59%) após ser derrubado por fatores pontuais em setembro. Contribuiu para o movimento a forte alta concentrada no item seguro voluntário de veículo (3,64%), em devolução da queda da última leitura”, analisa.
“Também aceleraram os serviços intensivos em trabalho e a média dos núcleos (0,37% e 0,43%, respectivamente), ambos acompanhados de perto pelo BC e com deterioração acima da esperada por nós”, completa.
Andre Fernandes, head da mesa de renda variável e sócio da A7 Capital, comenta que vê a leitura como “bem ruim”, e que a “composição também não veio boa, tanto o índice cheio quanto os núcleos seguem acelerando.”
“Acredito novamente em uma alta de juros. O mercado precifica uma alta de 0,50p.p. na Selic para a próxima reunião. Vemos um cenário inflacionário cada vez pior, e sem previsão de melhora no cenário fiscal para ancorar as expectativas de inflação, que poderia ajudar o país a ter juros mais baixos”.
IPCA-15 torna hipótese de estouro da meta mais provável
Ainda nesta semana o consenso de mercado passou a projetar que a inflação em 2024 fique no limite do teto, conforme refletido na edição do Boletim Focus da segunda, 21.
Nesse contexto, além do impacto direto na percepção sobre a condução da política monetária, analistas destacam que a leitura do IPCA-15 também aumenta as preocupações acerca do estouro da meta de inflação – definida em 4,5% para este ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
“O resultado da prévia da inflação em outubro ultrapassa as expectativas do mercado e acende um sinal de alerta, pois se aproxima do teto da meta de inflação para 2024. Esse cenário reforça a preocupação com a persistência das pressões inflacionárias, principalmente em itens essenciais como energia, que têm um impacto direto no custo de vida das famílias, forçando o Banco Central a adotar uma abordagem mais cautelosa em relação aos cortes na taxa Selic”, comenta Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest.
Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, explica que o acumulado de 12 meses está dentro da meta, mas os resultados acima das projeções indicam que as pressões inflacionárias persistem em diversos setores, como habitação e saúde.
“Esse cenário inflacionário mais elevado pode limitar as ações do Banco Central em futuras reuniões, já que há uma necessidade crescente de conter os preços sem prejudicar a recuperação econômica. A alta dos preços de serviços, combinada com o aumento dos custos habitacionais, pode impactar negativamente o consumo interno e afetar empresas dos setores de bens de consumo, varejo e construção”, pontua sobre o IPCA-15.