O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje (26) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) com uma alta de 1,20% para o mês de outubro, após ter atingido 1,14% em setembro.

A variação não atinge um valor tão alto para o mês de outubro desde 1995, quando chegou a 1,34%. A maior variação mensal do índice foi de 1,42% em fevereiro de 2016, segundo o IBGE.

A alta é justificada pelo aumento do custo da energia elétrica (com 3,91%) e dos combustíveis (2,03%).

O economista Paulo Gala, mestre e doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, comenta sobre o resultado de um dos principais índices para medir a inflação no país:

“O número veio maior do que se imaginava, o mercado esperava algo entre 1% a 1,10%. Aí tem uma mensagem importante, talvez o pico da inflação não tenha sido ultrapassado ainda. Agora estamos na discussão: quando é o pico? Afinal, o mercado tem uma visão de que a inflação vai cair, mas a discussão é: onde é o pico para depois começar a cair? Parece que o pico foi empurrado para outubro ou novembro e o dado colocou muita pressão na taxa de juros longos, que estão subindo com bastante força. Esse indicador surpreende e coloca o Banco Central numa posição ainda mais delicada para tomar a decisão de taxa de juros amanhã”, pontua Paulo.

O total acumulado de 10,34% para a inflação em 12 meses também aumentou em comparação com o mesmo período do ano anterior, que estava em 10,05%.

O resultado é pior do que o esperado, segundo o economista, que completa:

“A visão que tínhamos era de que a taxa subiria 1%, pelo menos era o que o Banco Central tinha sinalizado e escrito em ata, além de ter frisado bastante que ia seguir esse ritmo de 100 bases, ou seja, de um ponto em um ponto. Mas, depois do ocorrido na semana passada, com o furo do teto, com os membros da equipe econômica que saíram e com a desvalorização cambial muito forte que decorreu disso e de alta de juros também, o mercado já coloca hoje uma expectativa de alta da Selic amanhã de 1,25% até 1,5%. Então, o Banco Central está em uma posição meio delicada porque ele insistia que o 1% era suficiente para colocar inflação na meta em 2022 e 2023, mas parece que não vai ser, lembrando que a meta de 2022 é 3,5% e 2023 é de 3,25%. Então, a gente está falando de uma meta hoje, com esse cenário, bastante difícil de alcançar”, lembra o economista.

De 9 grupos, 8 deles tiveram aumento no preço segundo o IPCA-15. Abaixo, é possível conferir a porcentagem de aumento para cada um dos produtos e serviços:

Alimentação e bebidas: 1,38%
Habitação: 1,87%
Artigos de residência: 0,53%
Vestuário: 1,32%
Transportes: 2,06%
Saúde e cuidados pessoais: -0,01%
Despesas pessoais: 0,77%
Educação: 0,09%
Comunicação: 0,34%

“Isso vai obrigar, se o Copom quiser mesmo colocar a inflação na meta, a um choque de juros brutal”, comenta Paulo.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgará amanhã (27) a atualização para a taxa básica de juros (Selic) do mês e o economista adverte sobre a importância da decisão e suas implicações:

“É importante registrar que ninguém sabe quanto vai ser a inflação no ano que vem. Vemos o mercado já precificando e cheio de certezas com essa alta de juros. Há uma pressão no Banco Central meio que dizendo “ó Banco Central, você vai ter que aumentar o juros, porque na cabeça dos analistas de mercado, a inflação vai estar muito puxada e os juros corretos devem ser lá pra cima”. Isso não quer dizer que o Banco Central concorde com isso e nem que o modelo do Banco Central aponte para isso. Então, amanhã a gente vai ver o que o Banco Central diz e o que ele fará, mas já fica claro que se não subir pelo menos 1,25%, o mercado vai ficar revoltado, vão fazer o famoso “Tantrum” ou chilique, como a gente viu acontecer lá nos Estados Unidos, o “Taper Tantrum”. Em 2013, quando o presidente do FED, Ben Bernanke, anunciou o fim dos estímulos monetários, o mercado se revoltou em relação à autoridade monetária”, diz Paulo Gala.

O mercado já prevê uma Selic de 8,75% ao invés de 8,25% para o final de 2021. Para o fim de 2022, economistas do mercado financeiro esperam o aumento da taxa Selic de 8,75% para 9,5% ao ano.

“Então, caso o Banco Central não suba amanhã 1,25% ou 1,5%, teremos uma revolta do mercado de juros, podendo o dólar desvalorizar mais e os juros subir ainda mais”, completa o economista.