O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou dezembro com alta de 0,56%, informou o IBGE nesta quinta-feira, 11. Assim, a inflação do ano com ficou com alta acumulada de 4,62%, dentro do intervalo da meta determinada Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – entre 1,75% e 4,75%.

Com alta de 1,11% em dezembro, o grupo de alimentação e bebidas teve maior impacto sobre a inflação do mês. Os preços nos mercados com maior alta foram: batata-inglesa (19,09%), feijão-carioca (13,79%), arroz (5,81%) e frutas (3,37%); a alimentação no domicílio subiu 1,34%. Já o leite longa vida manteve o preço mais barato sétimo mês seguido (-1,26%).

“Foi uma reta final de IPCA sem surpresas, e que projetam um 2024, por enquanto, também em ‘voo de cruzeiro sem maiores turbulências’, apesar das ameaças externas devido aos conflitos bélicos e à situação fiscal dos EUA, avalia Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec RJ. 

Porém, a alta de preços dos alimentos, segundo André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é um alerta.

“O que a gente vê nos dados é que, para o mês de dezembro, houve então uma aceleração no preço de alimentos por questões climáticas, e eu acho que isso já aponta um dos principais desafios que a gente vai viver em 2024, que é quando os fenômenos associados ao El Nino, esses eventos climáticos extremos, tendem a gerar alguma dificuldade do ponto de vista da produção de alimentos no país e pode gerar pressões sobre alimentos”, explica.

Houve também pressão, conforme ressalta Roncaglia, sobre o preço das passagens aéreas, setor que vem tendo uma série de dificuldades do ponto de vista da insatisfação popular, com o aumento dessas passagens.

“[O preço] também estimulado pelo preço dos combustíveis, que também foi uma elevação grande ao longo do ano. Os alimentos afetam mais as camadas populares e a elevação no preço das passagens afeta mais a classe médica e classe alta”, acrescenta, explicando que ambas pressões foram compensadas pela queda dos preços dos combustíveis.

A inflação acumulada de 4,62% ficou abaixo dos 5,79% registrados em 2022, e o maior impacto veio do grupo Transportes (7,14%), com a alta acumulada da gasolina (12,09%).

“Existiu essa compensação que levou a um resultado bastante benigno de uma inflação dentro do intervalo da meta de inflação, ficando abaixo das expectativas de mercado do início do ano, que é uma boa notícia, e valida o esforço do Banco Central, que apesar de ser limitado e insuficiente, na minha visão, de ir cortando a taxa Selic ao longo do ano”, reforça o professor.

Roncaglia finaliza que, em suma, é uma boa notícia, já que a a inflação desacelerou, e afirma que houve, em 2023, um processo de ‘desinflação benigna’, que pode ser operada sem que haja um elevado custo social na forma de desemprego e redução no poder de compra da população. “Tivemos um ano com crescimento econômico razoavelmente forte, queda do desemprego e uma redução da inflação com redução da taxa Selic”, completa.