Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A inflação no Brasil atingiu a taxa mais alta para abril em 26 anos e ultrapassou a marca de 12% em 12 meses, uma vez que os preços dos combustíveis e dos alimentos continuaram a pressionar o bolso dos consumidores.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou a alta a 1,06% em abril, de 1,62% no mês anterior, mostraram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

IPCA tem maior proporção de subitens com alta de preços em quase 20 anos

Apesar do alívio, o resultado divulgado nesta quarta-feira é o mais elevado para um mês de abril desde 1996 (1,26%).

Com isso a taxa acumulada em 12 meses disparou a uma elevação de 12,13%, contra 11,30% em março, marcando o maior nível desde outubro de 2003 (13,98%) e bem mais do que o dobro do teto da meta de inflação para 2022 –3,50%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

As expectativas em pesquisa da Reuters eram de altas de 1,0% na comparação mensal e de 12,07% em 12 meses.

O número foi divulgado um dia depois de o Banco Central reconhecer que há uma deterioração na dinâmica inflacionária do Brasil apesar do ciclo “bastante intenso e tempestivo” de ajuste nos juros. Nesse cenário, o BC elevou a taxa básica de juros Selic na semana passada em 1 ponto percentual, a 12,75%.

O IPCA de abril mostrou ainda que as altas de preços estão disseminadas entre os produtos, com o índice de difusão chegando a 78,25% em abril, maior taxa desde janeiro de 2003.

“Um dos fatores para a alta da difusão é o aumento de custos na economia tais como combustíveis, frete e afins”, explicou o analista da pesquisa, André Almeida.

ALIMENTOS E GASOLINA

Em abril os maiores impactos foram exercidos pelos avanços de 2,06% dos preços de alimentação e bebidas e de 1,91% dos transportes –juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 80% do IPCA de abril, segundo o IBGE.

Nos alimentos, a pressão maior partiu dos preços dos alimentos para consumo no domicílio, que subiram 2,59% no mês.

Já em transportes a alta foi puxada principalmente pelo aumento de 3,20% nos preços dos combustíveis –somente a gasolina subiu 2,48%.

“A gasolina é o subitem com maior peso no IPCA, mas os outros combustíveis também subiram. O etanol subiu 8,44%, o óleo diesel, 4,74% e a ainda houve uma alta de 0,24% no gás veicular”, disse Almeida.

As pressões inflacionárias no Brasil vêm aumentando diante do reajuste de combustíveis em meio à alta do petróleo no mercado internacional, com o choque de oferta provocado pela guerra na Ucrânia.

O que evitou um salto ainda maior no IPCA de abril foi a deflação de 1,14% do grupo Habitação, graças ao recuo de 6,27% nos preços da energia elétrica com a entrada em vigor da bandeira tarifária verde.

Se de um lado o início da bandeira verde para a energia elétrica em abril e a sazonalidade favorável da produção de alimentos pode aliviar a inflação nos próximos meses, de outro ainda deve haver impacto de lockdowns na China e dos embargos contra a Rússia.

Além disso, a Petrobras anunciou na segunda-feira aumento do preço médio do diesel de 8,87% nas suas refinarias. A empresa citou a necessidade de reajuste para equilibrar o mercado e mantê-lo abastecido por outras companhias, apesar de manifestações nos últimos dias do presidente Jair Bolsonaro contra uma alta dos preços dos combustíveis.

Uma política monetária mais apertada tende a esfriar os gastos do consumidor e, consequentemente, conter a alta dos preços, mas também restringe a atividade. Soma-se ainda ao cenário o dólar elevado.

 

(Edição de Luana Maria Benedito)

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