Uma reforma de sua casa, em 2006, foi o que levou o dentista paulista Dario Zito a pisar, pela primeira vez, em uma galeria de arte. Estimulado pelo arquiteto responsável pela obra, Zito buscava uma peça para decorar o novo imóvel. “Na minha concepção obras eram caríssimas, não algo que eu deveria ter em casa”, diz. Seu conceito mudou tão logo lhe apresentaram um quadro da artista plástica carioca Ana Holk. O preço era baixo, apenas R$ 900. Seduzido, Zito levou-a para casa, sem pensar em revender. 

 

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Zito diante do quadro “Pedro”, de autoria de Paulo

Climachauska, avaliado em R$ 65 mil

 

Ele ainda não pensa, embora calcule que a valorização, nes­se período, foi de 900%. Frequentador habitual do mercado de ações, Zito compara seus investimentos em arte à participação nas aberturas de capital das empresas, os chamados Initial Public Offerings, ou IPOs. “Se eu comprar uma ação de primeira linha não vou perder dinheiro, mas os lucros não serão extraordinários” diz ele. “Comprar um quadro de um artista pouco conhecido é mais arriscado, mas a perspectiva de valorização é muito maior.” Quando começou, Zito chegava a comprar cinco pequenas obras por mês.

 

Atualmente ele prefere adquirir uma grande a cada seis meses. Sua coleção engloba 200 peças de mais de 50 artistas, em sua maioria comprados na baixa, mas que agora estão em alta, como Leda Catunda, Iran do Espírito Santo, Nino Cais e Nazareno. Seguir os passos de Zito requer um pouco de esforço. Embora toda aquisição de uma obra de arte deva considerar algo intangível como o prazer de contemplar a peça, a estratégia deve ser a mesma para escolher uma ação. “Não se deve entrar no mercado sem informações”, diz a artista plástica paulista Lina Wurzmann. 

 

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Pierre Moreau, advogado: ”ir a leilões permite entender

como o mercado funciona” 

 

“Galerias, feiras, leilões e exposições podem auxiliar o investidor a formar seu repertório.” Outra semelhança com a bolsa são as vantagens da diversificação. O marchand paulista Wagner Lungov, fundador da Central Galeria, diz que apostar em vários nomes reduz os riscos. “Um artista desconhecido pode simplesmente desaparecer para o mercado, e esse risco tem de ser calculado”, diz ele. Também é preciso tomar cuidado para não pagar demais. Bianca Cutait, consultora paulista de arte, recomenda uma abordagem calculista. 

 

O interessado em um quadro deve comparar o rendimento potencial com outras alternativas do mercado financeiro. “A decisão de investir é bastante subjetiva, por isso saber se determinada obra vale o que está sendo pedido pode fazer a diferença”, diz. Segundo Lina, a base para a criação de um preço é primeiro o custo da obra: se é uma tela, uma escultura e qual material foi utilizado. “Depois vem o currículo do artista, se ele é estreante no mercado ou se já expôs em alguma mostra importante”, diz. 

 

“Em seguida é a vez do que eleva o chamado valor agregado da obra, algo como ter sido emprestada para um museu ou ter participado de uma mostra de renome.” Observar o preço e a assinatura do artista não são os únicos cuidados. Também é preciso ter certeza da autenticidade da peça. Antônio Sérgio Pitombo, do escritório de advocacia Moraes Pitombo, lida mensalmente com uma série de casos com problemas de autenticidade e aconselha que sempre seja exigido um certificado de origem formalizado e com firma reconhecida.

 

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Aloísio Cravo, leiloeiro: ”é bom começar com nomes menos conhecidos” 

 

“O Brasil ainda não avançou nessa questão de contratos e formalizações; portanto, esse é um terreno complicado para o investidor e que demanda muito cuidado”, afirma ele. Depois de escolhida a peça, como comprar? Segundo Pierre Moreau, professor da PUC-SP e sócio da Moreau e Balera Advogados, os leilões de arte são um bom lugar para começar. Aventurar-se nesses ambientes ajuda a entender a dinâmica do mercado, mas, se a intenção for dar um lance, é aconselhável antes se familiarizar com arte. 

 

Esse conselho é ainda mais precioso no Brasil, que carece de casas especializadas. Um bom exemplo da carência do mercado é o leiloeiro paulista Aloísio Cravo, ex-diretor do Banco Safra. Após participar de leilões de arte como colecionador, na década de 1980, ele percebeu que havia potencial de negócios, tornando-se um leiloeiro. Atualmente, Cravo realiza dois leilões por ano, dos quais participam em média 60 artistas. Em busca do próximo Portinari, um número crescente de investidores está chegando ao mercado, o que facilita a compra e a venda das peças. 

 

Pesquisa da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact) mostra que os negócios com arte, envolvendo feiras, leilões, galerias e vendas individuais cresceu 22,5% em 2012, o triplo da média mundial. Nesse período, as vendas das galerias aumentaram 81%, para R$ 250 milhões. Boa parte desse movimento veio dos estreantes no mercado. Esses recém-chegados já chegam sabendo o que querem. “Suas estratégias se inspiram nas dos colecionadores mais experientes”, diz Cravo. Especialista em artistas consagrados e acostumado a atender os maiores colecionadores do País, ele avalia que a estratégia de apostar nos nomes menos conhecidos é perfeita para quem está começando, tanto para reduzir os riscos quanto para aproveitar-se de um ou outro caso de valorização excepcional. 

 

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As obras da carioca adriana varejão estão entre as mais valorizadas

dentre os artistas brasileiros

 

O colecionador Zito é a prova de que é possível ter obras de artistas famosos a um preço acessível. Ele possui trabalhos da carioca Adriana Varejão, que em junho viu seu quadro O milagre dos peixes ser vendido por US$ 1,2 milhão na Christie´s de Londres. Zito não conta quanto vale seu acervo, mas calcula que, entre altas e baixas, o ganho médio foi de 200% em sete anos. Um bom exemplo é o quadro Calcinha branca, do artista paulista Rodrigo Andrade, comprado em 2009 por R$ 5 mil, hoje avaliado em R$ 15 mil. 

 

Com frequência, peças do acervo de Zito são emprestadas a museus no Brasil e no mundo, o que ajuda na valorização. Ele paga, no máximo, até R$ 20 mil por uma obra e chega a parcelar as compras. Na hora de vender, o critério são as obras que deixaram de se harmonizar com seu acervo. Nisso, ele segue a recomendação da advogada Tamara Perlman, que sugere não pensar apenas na possibilidade de valorização financeira. “Tenha uma relação emocional com aquilo que você adquirir”, diz ela.

 

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