04/10/2025 - 6:36
Militares israelenses afirmam que enclave palestino continua sendo uma “zona de combate perigosa”. Bombardeios ocorrem após Hamas concordar em libertar reféns e Trump pedir fim imediato de ataques.Israel manteve neste sábado (04/10) os ataques à Faixa de Gaza, apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter pedido a suspensão dos bombardeios. O pedido ocorreu após o grupo islâmico palestino Hamas ter aceitado libertar todos os reféns e alguns termos do plano de paz para a região proposto pelo americano.
A agência da defesa civil de Gaza afirmou que Israel realizou dezenas de ataques à Cidade de Gaza numa noite “muito violenta”. As Forças Armadas israelenses confirmaram que a ofensiva na região continua e alertaram os residentes a não voltarem para a área, que continua sendo uma “zona de combate perigosa”.
De acordo com diversas fontes médicas, pelo menos nove pessoas morreram, entre as quais três crianças, e várias ficaram feridas, na sequência dos bombardeios ocorrida durante a madrugada.
Os ataques aconteceram após o Hamas ter anunciado que está disposto a libertar todos os reféns, de acordo com o plano de Trump, e ter pedido o início de “negociações imediatas através dos mediadores” para discutir os detalhes de um acordo de paz para o conflito.
Trump comemorou a decisão do grupo em um vídeo postado em suas redes sociais e aplaudiu estar “perto de conseguir” que a guerra na Faixa de Gaza termine. Além disso, ele exigiu que Israel cessasse imediatamente os bombardeios no enclave palestino para poder dar lugar à libertação dos reféns que continuam sob custódia do Hamas.
Líderes mundiais pedem fim dos combates
O anúncio foi bem recebido por diversos líderes mundiais. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ressaltou que o momento deve ser aproveitado e destacou que um cessar-fogo imediato e a libertação dos reféns estão mais perto do que nunca.
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que agora seria a hora de se fazerem “progressos decisivos em direção à paz”. O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, também defendeu o fim imediato dos combates e declarou que essa seria “a melhor chance para a paz”. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, frisou que a posição do Hamas é um “significativo passo em frente” e pediu que todas as partes implementem o acordo sem demora.
O Egito, mediador entre Israel e o Hamas, saudou a aceitação do grupo palestino a “princípios-chave do plano” para o fim do conflito. “O Egito expressa a sua esperança de que este desenvolvimento positivo leve todas as partes a assumir o nível de responsabilidade, se comprometendo a implementar o plano de Trump no território”, destacou o ministério do Exterior egípcio.
A Jordânia elogiou a mediação do Catar e do Egito, além de destacar os esforços dos EUA, incluindo a oposição à anexação da Cisjordânia por Israel, e pediu a suspensão imediata da ofensiva israelense em Gaza.
Israel se prepara para implementar plano de paz
Neste sábado, o governo de Israel anunciou que está se preparando para implementar “imediatamente” a primeira fase do plano de paz para libertar os reféns considerando a resposta do Hamas. O comunicado do governo de Israel não menciona, porém, o pedido de Trump para o fim dos bombardeios.
“Continuaremos trabalhando em plena cooperação com o presidente e sua equipe para pôr fim à guerra de acordo com os princípios expostos por Israel, que se correspondem com a visão de Trump para terminar a guerra”, afirmou em um breve comunicado a assessoria de imprensa do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
O plano de 20 pontos que Trump apresentou na última segunda-feira na Casa Branca, aceito inicialmente por Netanyahu, propõe o fim imediato da guerra, a libertação dos reféns por parte do Hamas e a formação de um governo de transição para Gaza que estaria supervisionado pelo próprio presidente americano e pelo ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair.
Esse roteiro também contempla a desmilitarização da Faixa e a possibilidade de negociar no futuro um Estado palestino, algo descartado, no entanto, pelo primeiro-ministro israelense.
Trump investiu um capital político significativo nos esforços para encerrar a guerra que já dura quase dois anos e que deixou milhares e mortos e isola cada vez mais Israel no cenário internacional.
Famílias de reféns pedem fim dos bombardeios
Após os bombardeios israelenses, o principal grupo que representa a família dos sequestrados afirmou neste sábado que era “essencial” encerrar a guerra em Gaza para “evitar danos graves e irreversíveis aos reféns”. “Pedimos ao primeiro-ministro Netanyahu que inicie imediatamente negociações eficientes e rápidas para trazer todos os nossos reféns de volta para a casa.”
Internamente, Netanyahu está dividido entre a crescente pressão para pôr fim à guerra – vinda de familiares de vítimas e de parte da população do país – e as demandas de membros linha-dura de sua coalizão de extrema direita, que insistem em manter o conflito sem trégua.
O governo israelense iniciou sua ofensiva após o ataque terrorista do Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1,2 mil mortos e levou 251 reféns para Gaza. Israel estima que o grupo mantém ainda 48 sequestrados, dos quais 20 estariam vivos.
Desde então, a ofensiva israelense no enclave palestino deixou mais de 60 mil mortos, a grande maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os bombardeiros destruíram grande parte da região e as restrições impostas à ajuda humanitária desencadearam uma crise de fome em Gaza.
cn (Reuters, AFP, Lusa, EFE)