24/04/2014 - 15:29
Israel decidiu nesta quinta-feira suspender as negociações de paz com a Autoridade Palestina e sancioná-la após o acordo de reconciliação com o Hamas, mergulhando o processo de paz iniciado por Washington numa crise.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou ao canal americano NBC que o acordo entre a Organização de Libertação da Palestina (OLP), do presidente palestino Mahmud Abbas, e o movimento islamita do Hamas para formar um governo de união representa “um grande salto para trás” e que “mata a paz”.
Este acordo, que prevê a formação de um governo de consenso nacional com o Hamas, considerado por Israel “um grupo terrorista”, e a realização de eleições no final de 2014, foi anunciado em plena crise nas negociações de paz que não atingiram nenhum resultado tangível desde que foram retomadas, em julho de 2013.
O anúncio da suspensão das negociações foi feito após uma reunião de cinco horas do gabinete de segurança reunindo Netanyahu e seus principais ministros.
“O gabinete decidiu de forma unânime que o governo israelense não negociará com um governo apoiado pelo Hamas, uma organização terrorista que pede a destruição de Israel”, indicaram os serviços do primeiro-ministro.
“Além disso, Israel tomará uma série de medidas, respondendo, assim, às decisões unilaterais da AP” (Autoridade Palestina), acrescentaram, em referência a possíveis sanções.
“Acredito que o que aconteceu é um grande revés para a paz, porque esperávamos que o presidente da Autoridade Palestina, Abbas, aceitasse o Estado judeu, a ideia de dois Estados-nação, um palestino e outro judeu”, explicou Netanyahu à NBC.
“Mas, em vez disso, deu um grande salto para trás e fez um pacto com o Hamas, uma organização terrorista que defende a destruição de Israel”, acrescentou.
O Hamas, no poder em Gaza desde 2007 e que rejeita as negociações de paz com Israel, também é considerado uma “organização terrorista” pelos Estados Unidos e a União Europeia.
A Autoridade Palestina prometeu “estudar todas as opções para responder às decisões do governo israelense”, segundo o negociador Saeb Erakat.
A liderança palestina irá se reunir neste fim de semana em Ramallah, na Cisjordânia, para discutir a crise. Entre as possibilidades analisadas pelos palestinos, está a adesão a novos tratados e organizações internacionais.
“Agora, a prioridade dos palestinos é a reconciliação e a unidade nacional”, declarou à AFP Erakat.
Não é a primeira vez que as duas partes palestinas anunciam a formação de um governo de consenso. O Hamas e o Fatah, que tem sede na Cisjordânia, assinaram acordos de reconciliação em 2011 e 2012 para acabar com suas divisões, mas as eleições foram constantemente adiadas.
Erakat também acusou Israel de “roubo”, já que impõe sanções contra a Autoridade Palestina congelando a transferência de impostos que recolhe em nome da Autoridade após os recentes pedidos de adesão da Palestina a 15 tratados e convenções internacionais.
“Este dinheiro nos pertence (…) A decisão de bloquear os fundos palestinos é roubo e pirataria que a comunidade internacional deve impedir”, declarou.
Abbas iniciou nesta quinta-feira suas consultas para formar o “gabinete de consenso” que ele dirigirá e que será formado por personalidades independentes.
Ele recebeu o emissário norte-americano Martin Indyk, cujo país expressou sua “decepção” após o acordo de reconciliação e conversou por telefone com o secretário de Estado John Kerry, segundo fontes palestinas.
O departamento de Estado advertiu que a reconciliação palestina terá “evidentemente implicações” sobre a ajuda americana.
No exterior, a Turquia e a Tunísia comemoraram o acordo de reconciliação, enquanto o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, expressou o apoio de sua organização a Abbas frente “às pressões israelenses”.
Abbas explicou na quarta-feira que as negociações com Israel e a reconciliação palestina não eram incompatíveis, reiterando o compromisso dos palestinos com a paz com base no direito internacional.
De acordo com Jibril Rajub, fonte próxima a Abbas, o “gabinete de consenso proclamará de maneira clara que aceita as condições do Quarteto” (Estados Unidos, Rússia, União Europeia, ONU). Este último exige do Hamas que ele reconheça Israel e renuncie à luta armada.
bur-agr/tp/mr-mm