13/06/2025 - 16:01
Ataque de Israel ao Irã acentuou o temor de uma guerra mais ampla, com potenciais efeitos sobre a economia global. Tensões ocorrem em um cenário já incerto, agravado pelas políticas tarifárias dos EUAO ataque de Israel às instalações nucleares e de mísseis balísticos do Irã, ocorrido na madrugada de sexta-feira, aumentou as chances de uma escalada militar no Oriente Médio. Com isso, impactos imediatos já são sentidos no mercado financeiro, e especialistas alertam para o potencial do conflito abalar a economia global, já fragilizada por choques recentes.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que a operação militar “continuará pelo tempo que for necessário para eliminar essa ameaça”, referindo-se ao desenvolvimento de armas nucleares por Teerã. Já o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, por sua vez, alertou que Israel deve esperar uma “punição severa” por seus ataques.
No entanto, uma guerra prolongada e mais ampla na região pode afetar os preços de petróleo, abalar os mercados de energia e as rotas comerciais da região, com efeitos econômicos no mundo inteiro e riscos de uma recessão global.
Primeiros abalos nos mercados globais
Logo após o bombardeio, os primeiros efeitos econômicos já foram sentidos. Os preços do petróleo dispararam, moedas se desvalorizaram e investidores correram para ativos considerados mais seguros, como ouro e títulos do governo.
“Os efeitos do ataque se espalharam pelos mercados globais, com uma forte movimentação de aversão ao risco em várias classes de ativos”, escreveram analistas do Deutsche Bank em nota, completando que os bombardeios geraram “temores significativos de escalada e de um conflito regional mais amplo”.
Os contratos futuros do petróleo bruto subiram até 13%, com os operadores apostando que o ataque israelense não seria um evento isolado. O Brent, referência global para os preços do petróleo, teve alta de mais de 10%, atingindo 75,15 dólares por barril — o maior valor em quase cinco meses.
Embora o setor de turismo e lazer tenha sido duramente atingido, ações de energia subiram, assim como os papéis de gigantes da defesa, como Lockheed Martin, Rheinmetall e BAE, que avançaram entre 2% e 3%.
Impacto econômico imediato
Com os ataques, Israel e Irã fecharam seus espaços aéreos, assim como o Iraque e a Jordânia. Várias companhias aéreas foram obrigadas a cancelarem voos para a região, diante do temor de que o conflito possa derrubar um avião.
Desde 2001, seis aeronaves comerciais foram abatidas acidentalmente no mundo, com outros três incidentes que quase terminaram em desastre, segundo a consultoria de risco aéreo Osprey Flight Solutions.
No entanto, redirecionar voos é uma operação cara, pois aumenta o tempo de trajeto e exige mais combustível.
Além disso, a moeda israelense, o shekel, caiu quase 2% em relação ao dólar na sexta-feira, após o governo declarar um “estado especial de emergência”, o que pareceu provocar um certo pânico entre a população.
Imagens nas redes sociais mostraram supermercados lotados e prateleiras vazias de certos produtos em Israel. O portal israelense Ynet citou a rede de supermercados Carrefour, que relatou um aumento de 300% no fluxo de clientes na sexta-feira.
Ameaça econômica de uma guerra total
O Oriente Médio é uma das principais regiões produtoras de petróleo do mundo, com algumas das maiores reservas e produtores globais.
O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo da região, atrás da Arábia Saudita e do Iraque, e apesar das sanções internacionais sobre suas exportações, ainda fornece grandes volumes de petróleo para a China e a Índia.
O analista Amarpreet Singh, do Barclays, alertou em nota que, no pior cenário possível, “o conflito poderia se expandir para outros importantes produtores de petróleo e gás da região, além de afetar o transporte marítimo”.
As atenções agora se voltam para o Estreito de Ormuz, uma estreitapassagem marítima entre o Irã, os Emirados Árabes Unidos e Omã – ponto crucial para o comércio global de petróleo. Cerca de um quinto do consumo total de petróleo do mundo passa pelo estreito – algo entre 18 e 19 milhões de barris por dia, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA).
Se for fechado, como o Irã já ameaçou diversas vezes, petroleiros ficariam parados e os preços do petróleo poderiam disparar ainda mais. O preço do petróleo afeta o que os consumidores pagam por tudo, desde combustíveis até alimentos.
Abalos em uma economia já fragilizada
As tensões entre Israel e Irã aumentam em um momento de grande incerteza nos mercados financeiros, agravada pelas políticas tarifárias oscilantes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A ameaça de tarifas pesadas sobre importações já perturbou o comércio global e gerou instabilidade entre os investidores. Essas tarifas elevaram os custos para consumidores e empresas, desacelerando a atividade econômica mundial. Um conflito prolongado entre Israel e Irã poderia intensificar essas pressões.
Um confronto em múltiplas frentes envolvendo grupos aliados do Irã, como o Hezbollah no Líbano ou os Houthis no Iêmen, poderia paralisar o transporte marítimo e o turismo.
Com isso, os custos com transporte devem disparar, como já ocorreu quando os Houthis passaram a atacar navios comerciais no Mar Vermelho, no fim de 2023 — outro ponto-chave para o comércio global.
Os ataques levaram empresas de navegação a desviar rotas em torno do Chifre da África, o que aumentou significativamente o tempo e os custos das viagens.
Interrupções no fornecimento regional de gás — incluindo o campo Tamar, em Israel, ou exportações de gás natural liquefeito (GNL) do Golfo — também pressionariam os mercados de energia da Europa e da Ásia.
Internamente, a economia de Israel já está pressionada pelo conflito na Faixa de Gaza, e uma guerra mais ampla com o Irã poderia elevar os custos para US$ 120 bilhões, ou 20% do PIB, segundo o economista israelense Yacov Sheinin.
O Irã, por sua vez, já vive uma grave crise econômicadevido às sanções internacionais ligadas ao seu programa nuclear, que restringiram suas exportações de petróleo. O rial iraniano segue fraco e a inflação está persistentemente alta, em torno de 40%. Qualquer nova interrupção nas exportações de petróleo teria efeitos globais.
Embora analistas recentemente tenham reduzido a probabilidade de uma recessão, a combinação entre as tarifas de Trump e uma guerra prolongada no Oriente Médio aumentaria significativamente o risco de uma recessão global.